Operações emergenciais e planos de ampliação enfrentam problemas históricos e tentam garantir a estabilidade do fornecimento local
Por Bruna Silva, Yasmin Escobar e Yana Silva
Rio Branco enfrentou uma nova interrupção no abastecimento de água, afetando cerca de 70% da capital acreana. O desabastecimento foi causado por uma operação emergencial na Estação de Tratamento de Água 2 (ETA 2), localizada às margens do Rio Acre. A intervenção, coordenada pela prefeitura da capital através do Serviço de Água e Esgoto de Rio Branco (Saerb), tem como objetivo ampliar a capacidade de captação da estação, o que permitirá um fornecimento mais estável e eficiente para a população a longo prazo.
Embora a intervenção tenha sido planejada para melhorar permanentemente o sistema de abastecimento, seus efeitos causaram impactos imediatos na rotina dos moradores, especialmente nos bairros periféricos, como Calafate, Sobral e São Francisco. Além disso, a sobrecarga nas redes de distribuição, aliada à falta de infraestrutura adequada, agrava os problemas de fornecimento de água nessas áreas.
“Durante o período de seca, ficamos três dias seguidos sem água lá em casa. Foi muito difícil manter até as atividades mais básicas do dia a dia. A gente espera que, com essa promessa de aumentar a captação, nossa rotina volte ao normal e o abastecimento melhore de verdade”, relata Daianne Santos, moradora do bairro São Francisco, uma das áreas afetadas pelo desabastecimento.
Foto: Arquivo Pessoal
Estrutura fragilizada e soluções emergenciais
Sendo uma das principais estruturas do sistema de abastecimento de água da capital, a ETA 2 enfrenta desafios recorrentes que refletem anos de falta de investimentos por parte do poder público. O engenheiro civil Jorginey Araújo, que integra a equipe técnica do Saerb, avalia que a origem dos problemas está relacionada à escolha do local de captação da água.
“A área onde está localizada a captação sofre com movimentações de terra constantes. Seria recomendável pleitear um novo ponto às margens do Rio Acre ou até mesmo mais afastado dele. Isso permitiria implementar um sistema com torres de captação, mais seguro do que o modelo atual por flutuantes”, aponta.
O engenheiro também destaca a importância de um compromisso político sério com a causa do saneamento básico. “Sem vontade política, o problema se perpetua. A falta de planejamento e de recursos impede soluções definitivas”.
Segundo o diretor-presidente do Serviço de Água e Esgoto de Rio Branco (Saerb), Enoque Pereira, a obra realizada na ETA 2 foi planejada para garantir o abastecimento da cidade pelos próximos dez anos. Ele reconhece, no entanto, que fatores naturais ainda podem impactar o sistema.
O diretor-presidente da instituição também destacou que não há previsão de construção de uma nova estação. “Hoje, não vislumbramos construir uma nova unidade de captação e tratamento. A produção de água em Rio Branco é alta: cerca de 400 litros por habitante ao dia, enquanto a média nacional é de 150 litros e a recomendada pela ONU é de 110 litros. O problema é o desperdício, que chega a 54% da distribuição total”, pontuou. “Para reduzir esse índice, o Saerb vem adotando medidas como a instalação de hidrômetros, a obrigatoriedade de boias nas caixas d’água e ações educativas voltadas à população.” declara.
Está prevista a realização de reformas na Estação de Tratamento de Água 1, que incluem a construção de um novo ponto de captação mais seguro. Com as intervenções programadas para as ETAs 1 e 2, o sistema de abastecimento de água deverá operar com maior segurança diante dos problemas recorrentes, como a elevada turbidez, a ocorrência de balseiros e as variações no nível do Rio Acre, fatores que historicamente afetam o funcionamento das estações.