Discussão entre professores e alunos gira em torno dos benefícios, desafios e implicações éticas que a ferramenta pode trazer
Por Pedro Amorim e Gabriela Magalhães
O ChatGPT é uma ferramenta que usa inteligência artificial para conversar e auxiliar em tarefas relacionadas à linguagem de forma automatizada e inteligente, tornando-se uma aliada em estudos, trabalho e até no dia a dia. Os benefícios, desafios e implicações éticas do uso dessa tecnologia tem motivado debates entre alunos e professores da Universidade Federal do Acre (Ufac).
José Ruan Monteiro, aluno do 4º período do curso de Economia, utiliza a IA como uma ferramenta de consulta para esclarecer dúvidas durante as sessões de estudo, além de corrigir textos e criar cenários hipotéticos relacionados às disciplinas que cursa.
“Desde que comecei a usar o ChatGPT meu rendimento melhorou significativamente. A ferramenta otimiza meu tempo de estudo e torna o processo mais dinâmico. É prático realizar pesquisas de acordo com meus interesses e as informações são bastante precisas”, explica.
José Ruan também reconhece os possíveis riscos do uso excessivo da tecnologia. Para ele, a IA pode impactar negativamente o desenvolvimento do pensamento crítico e da autonomia acadêmica dos estudantes. Além disso, destacou que o uso inadequado da ferramenta pode aumentar a procrastinação e resultar em um aprendizado superficial caso o ChatGPT seja utilizado como única fonte de pesquisa.
“A IA pensa pelo estudante e não estimula o questionamento necessário nem a busca por diferentes fontes de pensamento, que são pilares fundamentais para a formação do pensamento crítico”, diz.
O advogado e professor de Direito da Ufac, Madson Rocha, concorda sobre os benefícios e desafios da ferramenta no ambiente acadêmico. Ele destaca que o impacto do ChatGPT depende diretamente de como a tecnologia é utilizada e pode tanto complementar o ensino quanto prejudicar o desenvolvimento do pensamento crítico, caso não seja empregada de forma reflexiva.
Rocha explicou que, quando utilizado como um recurso complementar, o ChatGPT pode ampliar o acesso ao conhecimento e oferecer suporte personalizado aos alunos. Ele também ressaltou que os professores podem se beneficiar da IA para criar materiais didáticos, elaborar questões desafiadoras e promover discussões mais aprofundadas em sala de aula.
“A ferramenta pode ser valiosa para fornecer explicações interativas, auxiliar na resolução de dúvidas e estimular a autonomia dos estudantes na pesquisa e compreensão de temas complexos”, afirma.
ALERTA – O professor alerta para os riscos de um uso inadequado da ferramenta. Segundo ele, a facilidade de obter respostas instantâneas pode reduzir o esforço necessário para interpretar textos, argumentar e construir conhecimento próprio. Por isso, Rocha enfatiza a importância dos educadores incentivarem um uso reflexivo da ferramenta, promovendo a validação de informações e a formulação de perguntas mais elaboradas.
“Se os alunos recorrerem ao ChatGPT apenas como um atalho para respostas prontas, sem questionar ou refletir sobre as informações recebidas, o desenvolvimento do pensamento crítico pode ser comprometido”, destaca.
Outro ponto abordado pelo professor foi o impacto do ChatGPT nos métodos tradicionais de avaliação. Ele acredita que a ferramenta pode redefinir a forma como o conhecimento dos alunos é medido, especialmente em avaliações baseadas em memorização e respostas diretas.
“A IA consegue fornecer respostas rápidas e bem estruturadas, o que torna mais difícil avaliar o aprendizado apenas por meio de provas convencionais ou trabalhos escritos”, explica.
Para Rocha, essa mudança pode levar as instituições de ensino a repensarem as abordagens, como priorizar métodos que exijam maior capacidade de análise, interpretação e aplicação prática do conhecimento. Ele também destacou que o uso de ferramentas como o ChatGPT reforça a necessidade de desenvolver habilidades como pensamento crítico, criatividade e resolução de problemas, que não podem ser substituídas pela inteligência artificial.
“Avaliações como debates, estudos de caso, produções autorais e exames orais podem se tornar mais relevantes para verificar a compreensão real dos alunos”, sugere.
Madson Rocha enxerga o ChatGPT como um catalisador para transformações no ensino. Ele defende que o foco da educação deve ser menos na reprodução de conteúdo e mais na capacidade dos alunos de fazerem conexões entre diferentes temas, questionar informações e propor soluções inovadoras.
“Em vez de prejudicar a avaliação do conhecimento, a ferramenta pode incentivar métodos mais eficazes e alinhados às demandas do mundo contemporâneo”, destaca.
Enquanto a Ufac e outras instituições de ensino continuam a debater o papel da inteligência artificial na educação, o professor reforça a importância de um uso consciente e estratégico da tecnologia. “O ChatGPT é uma ferramenta poderosa, mas seu impacto positivo depende de como ela é integrada ao processo de aprendizagem. Cabe aos educadores e alunos explorarem seu potencial de forma crítica e reflexiva”, conclui.