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Laboratórios na Ufac: como a falta de equipamentos afeta a educação dos alunos

Planejamento Estratégico da universidade precisa tratar da defasagem como ponto crucial

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Por: Amanda Oliveira, Kerolayne França e Vitória Lima

A falta de equipamento para as aulas práticas na Universidade Federal do Acre (Ufac) é umas das maiores dificuldades encontradas para garantir um ensino de qualidade, colocando em risco o futuro dos próximos profissionais no mercado de trabalho.

A Lei Orçamentária Anual referente a 2021 — sancionada em 2022, pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, trouxe cortes para as universidades federais, sendo impossível seguir com as solicitações que os centros acadêmicos faziam para repor equipamentos. Porém, em 2023, a verba foi novamente reemitida pelo atual presidente Lula, e mesmo assim os laboratórios da instituição continuam apresentando falta de equipamentos.

Realizamos uma pesquisa virtualmente através do Google Forms com os alunos da Ufac, e identificamos com as 25 respostas, que 82,6% dos laboratórios apresentam falta de equipamentos e 69,6% dos professores/alunos precisaram tirar do próprio bolso para comprar materiais para as aulas práticas. Ainda conforme a pesquisa, 84,8% dos alunos se sentem prejudicados e 45,7% acreditam em uma melhoria até a conclusão do curso.

Pesquisa realizada através do Google Forms – Foto: Arquivo pessoal/ Kerolayne França

A atual coordenadora do curso de jornalismo, Tatyana Sá de Lima, relatou que nesses dois anos de mandato, foram abertos dois processos para requisição de equipamentos novos, mas a dificuldade enfrentada para serem aprovados é a falta de verba e burocracia. Esses processos passam por diversos setores e quando existe a possibilidade desses equipamentos serem adquiridos, os solicitados há um ano, já estão defasados. A lista de solicitação precisa ser atualizada novamente.

A coordenadora conta também que existe pouco empenho em atender o curso de jornalismo, não só na área de equipamentos, mas também de estrutura, um exemplo citado foi que o bloco está há vários anos sem quiosque e sem xerox. Impactando os alunos de ciências sociais e de humanas. “Estamos entrando para o quarto ano sem esses atendimentos, já aconteceu de ficarmos sem água no bloco, questões como essas são reportadas à prefeitura do campus, e atendidas de certa maneira dentro do prazo deles”.

Tatyana fala sobre a importância de uma ação dos próprios alunos, podendo ser apenas isso eficaz para que esse problema de equipamentos e estrutura possa ser visto pela reitoria. “O centro acadêmico dos estudantes com a atlética precisa estar bem estruturado e contar com o apoio dos professores e coordenadores para lutar, cobrar e protestar de uma forma organizada, conseguindo melhorias para o curso”.

No dia 06 de julho de 2023, o Centro Acadêmico Edson Martins (CAEM) do curso de jornalismo, com os outros centros acadêmicos da Ufac, realizaram uma reivindicação de verba. Questionando o fato da universidade receber 9,3 milhões de reais do Ministério da Educação e Cultura (MEC) para recomposição orçamentária, e não prestar contas publicamente do destino desse dinheiro, sendo que os equipamentos dos laboratórios de ensino da Ufac necessitam de renovação.

Em uma conversa com a tesoureira do CAEM, Isabelle Caroline Freitas, ficou claro que eles pretendem fazer uma nova reunião com os coordenadores, colegiado, professores e alunos do curso de jornalismo, para recolher suas assinaturas e fazer mais uma solicitação de novos equipamentos para os laboratórios. Destacando ainda “por ser um curso noturno e muitas pessoas estarem ocupadas no dia, fica difícil realizar uma grande mobilização”.

A esperança de ter melhoria nos laboratórios chega a ser impossível para o professor doutor e pesquisador do curso de física da Ufac, José Carlos de Oliveira (conhecido como Ponciano), que expressa em sua fala à decepção de não poder contar muito com a universidade sobre o reparo dos equipamentos e materiais para uso dos alunos. “A mais de quarenta anos tiro do meu bolso para continuar minhas pesquisas e aulas práticas, já que a reitoria não desembolsa 20 milhões de reais só para restaurar os laboratórios do curso, visto que em 2014 o ex-reitor da universidade, Minoru Kinpara, prometeu essas melhorias e não mudou muita coisa”.

Laboratório dos cursos de ciências da natureza e exatas da Ufac – Foto: Arquivo pessoal/ Vitória Lima
Laboratório dos cursos de ciências da natureza e exatas da Ufac – Foto: Arquivo pessoal/ Vitória Lima

A pandemia foi um acontecimento traumático que causou muitas perdas, e dentre estas estão os equipamentos dos laboratórios de física e jornalismo da universidade, que ficaram inutilizáveis em período de quarentena, fazendo com que ficassem inutilizáveis, devido ao tempo guardado nos laboratórios.

O vice-coordenador do curso de engenharia civil, Júlio Roberto, destacou que existem mais de quinze equipamentos de topografia que servem para medir o relevo. Porém, “somente três estão funcionando, tudo isso porque ficaram dois anos parados”.

Existem ainda problemas na estrutura dos laboratórios, sendo eles as goteiras do laboratório de desenhos, que quando chove molha os materiais e causa mofo nas paredes. Além do piso do laboratório de computadores, que está descolando, podendo causar tropeços e quedas.

Aluno com um topógrafo do curso de Engenharia Civil da Ufac – Foto: Arquivo pessoal/Vitória Lima
Laboratório de desenho das engenharias da Ufac – Foto: Arquivo pessoal/Vitória Lima

Segundo o pró-reitor de planejamento da Ufac, Alexandre Hid, para o problema dos equipamentos, os alunos têm a liberdade de entrar com os trâmites necessários para tentar uma solução. “Cada caso é um caso, dependendo do tipo de material, sendo necessário inicialmente o curso verificar a existência do material no almoxarifado”. Na sua inexistência, solicitar com antecedência, por meio de processo orientado pela Pró-Reitoria de Administração, com a aquisição obedecendo aos prazos previstos.

Como já há diversos processos solicitando material e até laboratório, o coordenador afirma que os documentos podem não ter tido retorno por “falha em especificações e até dificuldades para contratação de profissional ou empresa qualificada para a manutenção. O SEI possibilita o acompanhamento dos processos passo a passo, possibilitando a verificação de eventual falha de instrução ou dificuldade de contratação”.

Neste ano, a Ufac está realizando o planejamento estratégico 2024 – 2033, que busca qual caminho a universidade deve trilhar, realizando pesquisas para encontrar possíveis obstáculos no âmbito acadêmico, como o funcionamento da distribuição de recursos. Tendo em vista esse planejamento, é essencial que essa defasagem nos laboratórios seja um dos principais pontos a serem trabalhados, uma vez que a prática é a experiência que os alunos terão antes do mercado de trabalho.

O documento que será produzido conta com o apoio dos centros acadêmicos da universidade para haver uma orientação exata do que fazer nos próximos anos. O pró-reitor de planejamento da Ufac, Alexandre Hid, destacou a importância da comunidade acadêmica nessa construção. “No Planejamento Estratégico definem-se objetivos da instituição em consonância com sua missão institucional a fim de construir o futuro desejado. Assim, a participação da comunidade universitária e externa é importante considerando este viés”.

É importante que as representações da universidade estejam unidas nessa frente. A defasagem de equipamentos não é um problema atual, mas de décadas, alguns pontos vêm sendo melhorados ao longo dos anos. A maioria dos cursos possui uma estrutura, contudo, a distribuição de recursos e levantamento do que exatamente cada laboratório precisa ter, sempre está sendo feita de forma prioritária. Não é conveniente que os estudantes fiquem sem experiência prática e/ou precisem utilizar do próprio dinheiro para conseguir ter esses momentos de estudos, de imensa importância.

Laboratório do curso de Jornalismo da Ufac – Foto: Arquivo pessoal/Amanda Oliveira

A professora de fotografia do curso de Jornalismo da Ufac, Aleta Dreves, afirma que o curso exige experiências práticas para formação profissional dos discentes.

“Penso que os laboratórios do curso de jornalismo são importantes para a formação completa do nosso aluno, pois nosso curso exige muito da prática e não apenas de produção textual, acredito que nossos alunos estão com essa deficiência quase que total nesse momento. Desde a primeira turma de jornalismo temos uma formação deficitária em se tratando das práticas com equipamentos profissionais. Hoje temos uma vantagem, bons celulares fazem milagre, mas não podemos contar que cada aluno possa ter um bom celular”, disse.

A professora também acredita que os laboratórios e equipamentos do curso de Jornalismo não seriam aprovados caso houvesse uma avaliação do Ministério da Educação (MEC).

“Se tivéssemos hoje uma visita do MEC, certamente nossos laboratórios não passariam na avaliação. Enquanto essa visita não vem, a universidade parece não entender a obrigatoriedade da aquisição e reestruturação dos laboratórios”, afirmou.

Segundo a professora Aleta Dreves, “é preciso oferecer aos alunos a oportunidade do manuseio de equipamentos profissionais da profissão que escolherem seguir”.

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