“A maioria de nossas inundações acontecem no mês de fevereiro”, esclarece o coordenador municipal da Defesa Civil, major Cláudio Falcão
Bruna Giovanna e Ila Verus
Com a chegada do inverno amazônico, os rios do Acre começam a apresentar uma considerável elevação no nível da água, fazendo soar o alerta para as cheias dos rios do Acre, a identificação acontece a partir do índice pluviométrico, medido diariamente durante o ano todo. Segundo o coordenador da Defesa Civil da capital, major Cláudio Falcão, os sinais para uma possível inundação são observados a partir dos índices de chuvas e o aumento do nível do manancial.
Todos os anos há uma preocupação com a súbita elevação dos rios acreanos, que nos últimos anos causaram inundações históricas nos municípios do Acre. As cheias não podem ser evitadas, já que se trata de uma ação da natureza, mas é possível fazer a minimização da situação com um plano de contingência elaborado pela Defesa Civil. Onde há um monitoramento dos bairros com possibilidades de alagamento, está sendo feito o cadastramento das famílias que precisarem ser removidas, esclarece o Major Falcão sobre o serviço prestado pelo órgão responsável.
O clima equatorial úmido, com chuvas distribuídas ao longo dos meses são fatores que interferem diretamente nos níveis dos afluentes, sendo “73% das inundações no mês de fevereiro, mas podendo acontecer em dezembro, janeiro, março, mas fevereiro ainda é o mês de maior risco de inundações todos os anos”, alertou o coordenador da Defesa Civil, Cláudio Falcão.
Dados obtidos pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e das Políticas Indígenas (SEMAPI) mostram que no ano de 2020, no mesmo período de novembro há um leve aumento nos níveis dos afluentes acreanos, onde Assis Brasil, Brasiléia, Rio Branco e Xapuri ultrapassaram a média climatologia esperada para o mês de dezembro. E agora não está sendo diferente: em leitura do dia 29 de novembro, as plataformas registraram uma elevação de nível superior no mesmo período do ano anterior, deixando em alerta máximo o município de Brasiléia e em atenção Assis Brasil.
Segundo major Falcão, as estratégias de enfrentamento de uma possível inundação são feitas com a retirada de famílias de áreas alagadas, que são realocadas em abrigos ou em casas de parentes, onde há assistência em saúde, alimentação e segurança, tudo que essas famílias precisam para passar pelo período de enchente. Depois que as águas baixam, as famílias são retornadas às suas casas, mas antes disso é feito uma vistoria, com entrega de material de limpeza e assepsia, deixando o ambiente mais seguro para que essas pessoas retornem a sua residência.
De acordo com o major Cláudio Falcão, as pessoas devem se manter seguras e não arriscar suas vidas, tendo em vista que a partir do momento em que a água se aproxima da residência, eles precisam desligar a energia elétrica para não haver óbito por eletrocussão. Elas precisam ter cuidado em relação a animais peçonhentos que surgem nesse momento, precisam ter cuidado com o contato direto com água contaminada. As pessoas que moram às margens dos rios e estão alagadas devem ficar atentas à movimentação de massa, deslizamento de terra e árvores em seus quintais para evitarem acidentes”, reforça o coordenador da Defesa Civil sobre o procedimento que as pessoas afetadas por uma possível cheia devem tomar.
Alagamento
“Foi a maior enchente que a gente pegou depois de vir morar aqui, até então nunca havia entrado água dentro de casa e dessa vez entrou, o rio encheu muito rápido, mas ninguém da minha família perdeu nada”, quem diz isso é Tatiane Rodrigues, moradora de Cruzeiro do Sul que no início do ano teve sua casa atingida pelas águas do rio Juruá.
Além disso, a jovem explica que seus avós moram na região há anos, então eles já sabem o que fazer para não molhar as coisas, como fazer outro piso de madeira dentro da casa e à medida que for necessário, ir subindo as coisas. A força das águas fez com que Tatiane e sua filha precisassem sair de casa. “Como tenho uma filha pequena acabei não ficando na casa porque fica sem energia e fica até perigoso algum animal entrar na casa, então ficou só a minha mãe e o meu padrasto até mesmo por medo de sair de casa e outras pessoas tentarem entrar pra levar as coisas” explica, Tatiane.
Célia Lopes, assim como Tatiane, sabe o que é passar por uma alagação. Ao perceber que as águas do rio subiam depressa, a jovem e sua família resolveram ir para a casa nova, que estava em construção a poucos metros da atual, a mudança teve que ser feita às pressas. A estudante ainda fala sobre o medo das águas neste ano chegarem até sua nova casa, que é bem mais alta que a anterior. Pois quando as águas do rio sobem, só é possível sair de casa por canoa, além do abastecimento de energia e água potável serem interrompidos.
Ação do bem
Tendo em vista que Cruzeiro do Sul registrou nos últimos meses quatro cheias, quando o Rio Juruá e seus afluentes ultrapassaram a cota de transbordamento, de modo que uma delas a maior da história, afetando mais de 30 mil habitantes do município. A prefeitura do município, por meio do prefeito Zequinha Lima, ao lado da primeira- dama, Lurdinha Lima, iniciaram uma força tarefa junto aos demais servidores da prefeitura para minimizar a dor causada pelo alagamento.
“Também recebemos ajuda da prefeitura com água, sacolão e foi assim até as águas começarem a baixar, foram dias de angústia, ansiedade, medo e muita preocupação da água subir mais e a gente precisar ter que sair de casa” desabafa a jovem Tatiane.
Geovana Lima, servidora da prefeitura e voluntária da campanha, fala que houve uma grande sensibilização da população que ajudou com brinquedos, roupas e alimentos, assim como alguns órgãos. Nesse momento de cheia dos mananciais, é importante prezar pela empatia e solidariedade.