Diante da crise econômica agravada pela pandemia da Covid-19, muitas pessoas se viram obrigadas a abandonar os estudos com o objetivo de se manter no emprego
Com a necessidade de estabelecer um equilíbrio entre trabalho e estudo, muitos jovens e adultos acabam sofrendo desgastes físicos e mentais que trazem consequências para a vida pessoal. A pandemia da Covid-19 acabou cortando a renda de milhares de famílias, levando jovens a procurar emprego para contribuir na renda familiar. Uma pesquisa realizada pelo portal G1, mostrou que 11% dos estudantes matriculados no ensino médio em todo o Brasil declaram não estar acompanhando as aulas remotas, seja por falta de conectividade ou por questões de trabalho.
O jovem Rodney Marcos, auxiliar de escritório em uma rede de supermercados, salientou os motivos que o levaram ao abandono escolar: vontade de possuir bens materiais e independência financeira, juntamente com o cansaço psicológico afetado pela rotina de trabalho. “Tinha vontade de cada vez mais ter meu próprio salário e ser independente, pois minha família não tinha condições de manter”, conta.
Dados da Revista Educação mostram que 8,4% foi o percentual de alunos que abandonaram a escola no ano de 2020, no período de isolamento com o agravamento da pandemia da Covid-19. Segundo Rodney, existe uma falta de compreensão das empresas e instituições de ensino quanto à sobrecarga de trabalho.
“Um dos principais desafios que o estudante enfrenta para conciliar trabalho e estudos é a falta de compreensão, tanto das empresas quanto instituições educacionais, a respeito da sobrecarga de demandas. Isso acaba causando uma falta de produtividade e dificuldade no aprendizado”, salientou.
O estudante de bacharelado em psicologia Wermeson Paiva, de 30 anos, falou um pouco sobre os desafios enfrentados para conseguir conciliar as aulas da faculdade com o seu trabalho de atendende em uma distribuidora. Segundo ele, a falta de um ambiente adequado para estudar e o cansaço físico são alguns dos fatores que interferem na vida acadêmica e profissional.
“Uma das maiores dificuldades encontradas, com certeza, é a falta de um ambiente adequado para estudar, levando em consideração fatores externos, como também o sentimento de frustração, ansiedade e estresse constante. uitas vezes o sentimento de incapacidade se faz presente por não conseguir conciliar estudo/trabalho adequadamente”, declarou.
Por medo de não conseguir dar conta, o atendente conta que já teve que abrir mão de algumas disciplinas, pelo pouco tempo que tinha e a inflexibilidade dos docentes.
“Já tranquei disciplinas pela inflexibilidade de docentes para compreender as limitações de conciliar trabalho/estudos. Muitas vezes me sentia indisposto para fazer todas atividades assíncronas e por medo de ver que o desempenho final, mesmo com todos os esforços, acabasse sendo ruim.”
Tendo em vista que o transtorno mental é um problema recorrente em estudantes, em uma pesquisa feita pela psicóloga Karen Graner, com a participação de discentes de cursos da área da saúde, 30% dos estudantes sofrem de algum tipo de transtorno mental. Dessa forma, a psicóloga Ramona Aguia, com formação pela Universidade Federal do Acre (UFAC), destacou os impactos que essas atividades podem ter na vida dessas pessoas, salientando o alto índice de problemas relacionados à exaustão extrema, como a síndrome de burnout.
“Os impactos de uma rotina maçante de estudos e trabalho podem dizer muito a respeito da sociedade em que vivemos. Trabalhamos e estudamos numa lógica de poder tudo, de conseguir tudo e ser um “vitorioso” ou “bem sucedido”. Segundo Byung-Chul Han, em seu livro “A sociedade do Cansaço”, vivemos em uma lógica da angústia, de não estar fazendo tudo o que poderia ser feito, de que se você não fizer, você não é um vencedor e a culpa é sua. Ainda, segundo o autor, vivemos numa situação de auto-exploração e que pode resultar numa paralisação do ser, ou seja, em um sofrimento psicológico”.