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Cultura Nerd no Acre

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Cosplays CCPX 2018. Foto: Reprodução IGN

Por William S. de Souza 

A cidade de Rio Branco-AC demorou para perceber o ramo e o mercado dominado pelos aficionados por filmes, séries, games, animes,  quadrinhos (HQ), tecnologia e tudo que envolve o mundo nerd, talvez porque, durante muitos anos, a classificação “nerd” era  considerada um insulto. O termo, supostamente criado na década de 1950, foi utilizado para definir de forma pejorativa os mais estudiosos e tímidos, e ganhou  ainda mais força nas décadas de 70 e 80,  quando diversos filmes e séries utilizaram-se da figura para criar tipos esquisitões e desajeitados. 

A partir dos anos 90, com a chegada da Internet, esse grupo de pessoas ganhou um espaço ilimitado para compartilhar informações e interesses e, como tantas outras nomenclaturas insultuosas, o conceito de nerd foi resgatado e redefinido. Hoje o termo é utilizado para definir consumidores de produtos de alta tecnologia, fãs de audiovisuais e videogames e está cada vez mais dissociado do preconceito inicial. A mudança é boa, não só pela quebra de paradigmas, mas também porque este é um nicho mercadológico promissor. E se antes o público deste  segmento vivia refém de compras em sites estrangeiros e viagens para outros estados, agora é cada vez mais fácil ir ao cinema, prestigiar Comic-Con, encontrar blusas, bonecos, quadros e mais um leque de possibilidades sem ir muito longe ou pagar preços absurdos por isso. 

O nerd não mudou. Ele continua  sendo aquele cara completamente ligado e entendido sobre certos assuntos como tecnologia e quadrinhos. O que mudou  foi a cultura atual, que valoriza isso”, explica Hector Magalhães, um dos criadores e produtores da Comic Nerd, evento acreano inspirado em grandes feiras internacionais do gênero.  Não há uma definição única sobre o termo nerd, apenas características e gostos diferentes de alguns adolescentes e jovens, como possuir uma inteligência acima da média, gostar de tecnologia, games, ficção científica, da cultura medieval e oriental etc. 

Uma Comic-Con acreana 

Apresentação da cosplayer Juliana Lopes na Comic  Nerd 2019 (William S de Souza)

Em sua primeira edição, em 2019, a Comic Nerd se conectou ao público de  Rio Branco apaixonado por cultura pop.  Eles puderam desfrutar de uma programação nos moldes da Comic Con Experience (CCXP), maior evento do Brasil neste segmento, combinando entretenimento, lojas especializadas e oficinas  interativas. 

O evento recebeu cerca de 2 mil  espectadores e foi realizado entre os dias 13 e 15 de dezembro de 2019, no Ginásio do Sesi, em parceria com o Governo do  Estado, através da Secretaria de Empreendedorismo e Turismo. O objetivo é tornar a experiência acessível àqueles que não podem ou nunca puderam sair da região para ir à  São Paulo prestigiar uma CCXP ou ir ao exterior para uma San Diego Comic-Con.  

Sempre vi que Rio Branco tinha um potencial muito grande, temos muitas  lojas, segmentos que trabalham a cultura nerd. É uma cultura que vem crescendo  mundialmente, o nerd deixou de ser um estereótipo ruim. Ser chamado de nerd  antigamente era uma afronta, um insulto. E hoje os nerds ditam tendências”, destaca Hector.  

Apaixonado pela cultura nerd, Hector Magalhães é cosmaker (“se fantasia” de personagens) e colecionador de actions figures (bonecos colecionáveis), produzidos, inclusive, por ele mesmo. O produtor diz ainda que, antes de projetar o evento, fez uma pesquisa e percebeu que esse tipo de encontro não ocorre em nenhum estado da região Norte, a não ser os eventos pequenos como o AnimeAC e o Anime Jungle Party de Manaus-AM. 

“Quando tive a ideia de fazer, fui ver se tinha algo parecido e não tinha.  Rio Branco agora é essa referência. Ainda não foi da maneira que planejei, do jeito que nossa equipe pensou, mas precisávamos começar de algum ponto. 60%  do que planejei ainda não foi executado, por conta da falta de patrocínio e apoio maior, mas chegaremos lá”, acredita ele. 

As Comic-Con são convenções e feiras do mundo pop, que nasceram com a  Comic-Con International, realizada desde  a década de 1970 em San Diego, Califórnia (inicialmente com o nome Comic Book Convention). Esta se pode considerar a mãe de todas as convenções para fãs de cultura  pop como as que conhecemos hoje. A princípio voltada apenas para fãs de HQs, esses eventos de nicho se expandiram com o crescimento do interesse comercial dos produtores de cultura pop, que perceberam o público nerd como grande consumidor de produtos.  

Foto: Divulgação / CCXP2018

No Brasil, até 2013, não ocorriam grandes eventos voltados ao público nerd.  Tinha-se, apenas, convenções realizadas por fãs e/ou produtoras de eventos. Mesmo sendo eventos de pequena escala, eles já contavam com a presença de personalidades ligadas ao mundo da cultura pop.  Isso até tudo mudar, em 2014, com a realização da CCXP, em São Paulo. A feira, inspirada na convenção de San Diego, mostrou para a indústria que o nerd brasileiro estava não só esperando por um evento dessa magnitude, como  também preparado para consumir. 

O mercado dos colecionadores 

A venda de produtos licenciados ganhou de vez as prateleiras das varejistas. Lojas populares como  Piticas, Riachuelo e C&A investem em  coleções inspiradas em clássicos do cinema, heróis dos quadrinhos e astros da música. Em cada esquina, novas grifes eclodem, com prateleiras lotadas de objetos de decoração geek.  

O estudante Vinícius Santos, de 24 anos, comenta a facilidade de encontrar esses produtos atualmente: “Antes eu dependia de alguém que viajasse para o exterior para trazer uma encomenda para mim. Hoje já existem lojas nacionais especializadas em colecionáveis”. Viciado em action figures, ele destaca, além da facilidade, a possibilidade de desvincular-se de sites internacionais. “Lojas online têm uma variedade muito grande de produtos, mas na hora da compra, com frete e impostos, o bolso pesa”.  

Com o crescimento do nicho na  região, lojistas locais também têm se esforçado para trazer produtos como colecionáveis e quadrinhos, destacando-se entre os jovens acreanos e ganhando mais visibilidade e alcance por meio das redes sociais. É o caso de lojas como a Actions Geek e Coleções do Rex, que pensam na acessibilidade de consumidores fanáticos.  

A Actions Geek conta com uma variedade de artigos colecionáveis, como  action figures, personalizados e entre outros acessórios de figuras e personagens da cultura pop.  

Loja Actions Geek Foto: Reprodução / Facebook

“A loja surgiu do amor de seus  fundadores por colecionar itens do meio nerd e gamer, e está presente no mercado acreano desde 2014, fazendo a alegria de  jovens e adultos de todo o estado com  vários produtos de franquias de sucesso como Naruto, Dragon Ball, Harry Potter,  Star Wars, Friends, universo Marvel, DC Comics e muitos outros”, comenta Gabriel Matheus, um dos lojistas da Actions Geek.  

Já a Coleções do Rex, é uma banca especializada em quadrinhos em geral  (mangás, HQs, gibis e revistas) que tem como objetivo aproximar o leitor de suas  obras favoritas, nacionais ou  internacionais. “Desde 2018, a Coleções do Rex proporciona a alegria para novos leitores  acreanos, além de loja física, em eventos literários e de outros gêneros. A ideia  surgiu por causa da dificuldade de comprar online e pela falta de ter algo especializado no ramo. Poder ter um mangá em mãos e folhear é uma das melhores  sensações que um colecionador pode ter”, disse Francisco Ferreira, o Tio Rex,  sobre a banca.

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