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Crise no transporte público riobranquense

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Por Bruna Giovanna e Ila Caira Verus

O transporte público da cidade deixa muito a desejar, quem diz isso é a Larissa da Silva Lima, de 25 anos, que é moradora do bairro Cidade Nova, localizado no Segundo Distrito de Rio Branco – Acre. Ela precisa diariamente dos serviços que atualmente são prestados por meio dos transportes da empresa RBTrans.

A atendente de telemarketimg conta que o Norte-Sul/Santa Inês e o Taquari são as linhas que abastecem o Cidade Nova, mas que com a atual crise enfrentada no transporte público, seu bairro ficou por alguns dias desabastecido pela linha Norte-Sul/Santa Inês. O que issto representou? Um caos, para todos que necessitam do transporte, já que o serviço está longe de trazer conforto e segurança para os passageiros.

Para a jovem que anda de ônibus desde seus 11 anos de idade, o transporte sempre deixou a desejar. “O serviço nunca foi perfeito, é claro, mas antes ao menos a gente tinha ônibus disponível de no mínimo 40 em 40 minutos, mas de 2020 para cá, a espera é de 1 hora ou mais”, explica Larissa.

Isso reflete não só na rotina dos moradores do bairro, mas também em suas vidas pessoais, tendo em vista que o atraso e a má qualidade do transporte têm causado transtornos para aqueles que o tem como principal e único meio de locomoção.

Demora

Larissa Lima é funcionária numa empresa que fica longe de sua casa, com isso, a novela envolvendo o transporte é diária. “Já me atrasei várias vezes para ir ao trabalho, pois o ônibus do bairro não passava no horário certo. Em uma delas, tive que ir andando até o Terminal Urbano que leva cerca de 40 a 50 minutos andando. Por causa disso, já cheguei com quase 1h de atraso no trabalho”, explica.

 Para a jovem, o serviço atual do transporte público é um total descaso, com todos que têm necessidade de usar e até mesmo com os trabalhadores das empresas, não temos ônibus o suficiente para atender geral e olha que a nossa cidade não é tão grande”, fala Larissa.

Foto: Danieleh Coutinho

Além disso, a jovem pede que a prefeitura crie uma logística para que hajam melhorias na distribuição das linhas que atendem os bairros da capital, principalmente em relação às escalas dos horários dos transportes públicos, para que os passageiros passem a esperar menos nas paradas.

Além disso, a jovem pede uma atenção maior para aqueles que já estão no transporte. “Melhoria na segurança dos ônibus no qual muitas vezes sofrem assaltos e o básico: ter ônibus de qualidade, que não quebrem toda hora, que não sejam cheios de ferrugem e atendam a população geral como os deficientes”, reforça.

 Outro fator importante assinalado pela Larissa, é que o atual serviço não presta nenhum auxílio quando uma linha deixa de ser atendida pela empresa e não se preocupa em levar uma solução rápida para a região desassistida, resultando em um transtorno para os usuários do transporte público.

Foto: Assis Lima/ Arquivo

Além de Larissa, a Leidine Costa da Silva, autônoma, de 25 anos, mora no bairro Polo Benfica, e explica que além de haver apenas um ônibus que muitas das vezes atrasa, passa horas na parada com a insegurança de a qualquer momento ser assaltada. Quando o ônibus chega, já lotado, o medo parece ser fazer real, de a qualquer momento um ladrão entrar no transporte e levar seus pertences. “Muitas vezes tem arrastão, não somente nas paradas como nos ônibus, às vezes, a gente passa horas em pé esperando a boa vontade do ônibus que, quando vem é lotado”.

Quando indagada sobre a qualidade do serviço, ela não hesita e diz com firmeza se tratar de um serviço de péssima qualidade que oferece riscos a aqueles que dependem como ela para ir de um lugar ao outro.

Entenda a situação

A crise no transporte público em Rio Branco acontece desde 2020. Assim que Tião Bocalom assumiu a prefeitura afirmou que não iria repassar nenhum valor acima para as empresas de ônibus que atuam na cidade, e que elas deveriam arcar com os prejuízos que tiveram em decorrência da pandemia.

Isso resultou em salários atrasados para os motoristas, tendo em vista que as empresas colocam a culpa na prefeitura pela repasse, e em contrapartida a prefeitura alegava que havia enviado o valor correto sem nenhum extra.  Isso gerou revolta e muitas manifestações, tanto por parte dos motoristas que reivindicavam por seus salários atrasados quanto pela população que buscava qualidade e pontualidade das linhas.

Além disso, depois de muita articulação, o valor da passagem de ônibus que era de R$4,00 passou para R$3,50. A tarifa foi reduzida após indicação do Conselho Municipal de Transportes Públicos do Município de Rio Branco e a sanção do prefeito Tião Bocalom.

No final de 2021, o prefeito Tião Bocalom decretou situação de emergência no transporte público, isso resultou no decreto de intervenção operacional e financeira no Sistema Integrado de Transporte Urbano de Rio Branco (Siturb) e no Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo do Estado do Acre (Sindicol).

Foto: ContilNet

Ainda no fim do ano, deixaram de circular ônibus de pelo menos oito linhas (Amapá; Seis de Agosto/Judia; Belo Jardim I e II; Irineu Serra; Bahia/Carandá; Cabreúva/Aeroporto Velho; Floresta; Wanderley Dantas.)

Porém, depois de uma determinação da prefeitura de Rio Branco, duas empresas que operam na capital tiveram que ficar responsáveis pelas, agora, 11 linhas abandonadas pela empresa Auto Viação Floresta. Sendo as oito citadas acima mais as seguintes, Taquari/Praia do Amapá, Baixa Verde e Quixadá.

O diretor de Transportes na Superintendência de Transportes e Trânsito (RBTrans), Clendes Vilas Boas, ressalta que a retirada das 11 linhas de ônibus impactou diretamente na vida dos usuários do transporte público, que é um direito essencial para a população, mas esclarece que as linhas já voltaram a funcionar no dia 10 de janeiro, mas por tempo indeterminado.

Foto: Lidson Almeida/Rede Amazônica

Clendes Vilas Boas deixa claro que para solucionar esse déficit que está afetando diretamente a rotina de milhares de pessoas da capital, foram convocadas as duas empresas do Consórcio Via Verde, formado pela São Judas Tadeu e a Via Verde, conforme contrato 004/2004.

“Em curto prazo por força contratual, convocamos as duas empresas que fazem parte do SITURB (Sistema Integrado de transporte Urbano de Rio Branco), para assumir as lacunas em caráter precário e provisoriamente”, reforça o diretor de Transportes da RBTrans.

Avaliação

Cerca de 17 mil animais são vítimas de abandono no Acre e número aumenta a cada ano

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Por Arielly Casas, Lucas Sousa e Gabriela Queiroz

O município de Rio Branco registra um número de quase 17 mil animais abandonados, segundo o Centro de Zoonoses da Prefeitura de Rio Branco. Esse dado também reflete uma realidade nacional, na qual 25% dos cães e 26% dos gatos estão em situação de abandono, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Um exemplo é o caso de Mimoso, mascote adotado pela clínica veterinária Cães & Cia. Um dos médicos veterinários da clínica, Denis Costa, conta que o gato foi levado há mais de um ano pelo cuidador que o abandonou. O animal estava com uma miíase (infestação da pele por larvas de moscas que se alimentam do tecido do hospedeiro) na cabeça.

Costa também relata que foi um caso difícil de tratar e que ninguém acreditava na recuperação. Agora, após 18 meses, Mimoso está totalmente recuperado.

“O mascote que nós temos aqui, ninguém acreditava que estaria vivo. Era um caso em que ninguém confiava, e agora ele está esbanjando saúde”, disse o veterinário.

Na imagem, o veterinário Denis e o mascote Mimoso. Foto: Lucas Sousa

Esse não é o único registro de casos assim. Trata-se de uma questão alarmante, que cresce cada vez mais e configura um crime previsto na legislação brasileira. Segundo o artigo 32 da Lei Federal nº 9.605/1998, o abandono e os maus-tratos contra animais são crimes, com pena de três meses a um ano de detenção, além de multa. Em 2020, houve uma modificação, aumentando a pena para dois a cinco anos de reclusão, conforme a Lei Federal nº 14.064/2020.

ONGs

Um dos maiores desafios enfrentados pelos ativistas de Organizações Não Governamentais (ONGs) é o alto custo dos tratamentos para os animais resgatados. Vanessa Facundes, presidente da ONG Patinha Carente, explica que a organização não consegue realizar o resgate de todos os animais devido as dívidas acumuladas com as clínicas veterinárias.

“Gostaríamos de poder resgatar todos, mas temos dívidas muito altas nas clínicas veterinárias particulares”, argumentou a presidente da ONG.

Projeto de Lei

No Acre, dos 24 deputados estaduais, Emerson Jarude (NOVO) defende a causa animal e já possui um projeto de ação em parceria com a Universidade Federal do Acre (Ufac): o Projeto Cuidar, que tem como objetivo atender aos animais de rua. Instituições e ONGs que realizam trabalhos com esse foco também serão beneficiadas pelo projeto.

Jarude também anunciou o lançamento de um novo projeto: o Pet Farm (Farmácia de Pet), que será uma extensão do Projeto Cuidar.

“O Pet Farm é uma forma de conseguirmos disponibilizar medicamentos para os animais e auxiliarmos após o tratamento feito dentro desse projeto”, afirmou.

Poder público

A equipe de reportagem tentou contato com o Centro de Zoonoses da Prefeitura de Rio Branco para comentar a situação, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria. O espaço segue aberto para qualquer posicionamento ou esclarecimento por parte do poder público.

A crescente população de animais abandonados em Rio Branco evidencia a urgência de políticas públicas efetivas, parcerias institucionais e o engajamento da sociedade civil. Proteger os animais é também um dever social e legal, que exige mais do que boa vontade, é preciso ação.

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Cotidiano

Do papel às telas: a transição do jornal impresso acreano para o digital

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Por Ana Luiza Pedroza, Ádrya Miranda, Daniel de Paula e Wellington Vidal

 

O jornal impresso, símbolo histórico e cultural no Acre, começa a se despedir lentamente do cotidiano da população. A era digital assume o protagonismo, apostando em novos formatos de levar acesso à informação, no entanto, sem apagar o legado construído pelo impresso na história acreana.

Apesar dos esforços para reinventar o jornalismo local, a transição do impresso para o digital trouxe grandes desafios. No Acre, essa movimentação ocorreu de forma tardia, mas com a contribuição de jornalistas que se desdobram diariamente para acompanhar as mudanças no modo de noticiar, mantendo o compromisso social com a população.

Entre os obstáculos, a pandemia de Covid-19 foi um dos que aceleraram o declínio dos jornais impressos em todo o país, e no Acre não foi diferente. O A Gazeta, um dos veículos mais populares do estado, foi diretamente impactado.

Rotativa, máquina utilizada na impressão dos jornais A Gazeta. Foto: Ádrya Miranda

Fundado em 1985, sob direção de Silvio Martinello e Elson Martins, o jornal se destacou pelo jornalismo investigativo e de cunho social, sendo pioneiro em projetos editoriais gráficos com diagramação no impresso acreano. Foi por meio de suas páginas que os acreanos acompanharam coberturas históricas, como o assassinato do sindicalista Chico Mendes.

Em 1998, tornou-se o primeiro jornal a circular em cores no estado, com até 3.500 exemplares vendidos em dias movimentados, segundo Silvio. Apesar das inovações com o jornal impresso, o veículo enfrentou as adaptações tecnológicas do século 21. O portal online, criado ainda nessa fase, tinha estrutura simples, servindo apenas para replicar, de forma reduzida, as notícias do jornal físico.

À esquerda, Maíra Martinello; ao fundo, Paula Martinello; e à direita, Silvio Martinello. Foto: Arquivo pessoal

A edição impressa teve o seu fim em 2021, após uma expressiva queda nas vendas. Paula Martinello, jornalista do A Gazeta do Acre, relata que a migração definitiva para o digital foi desafiadora e impulsionada pela pandemia. “Foi um processo muito gradativo, porque o trabalho online não é fácil. É muita concorrência, é um outro tipo de público e perfil de consumo da notícia”, comenta.

Para os jornalistas do A Gazeta, hoje, A Gazeta do Acre, o desafio não foi apenas adaptar-se ao ambiente online, mas reinventar a rotina de produção jornalística sem abrir mão da credibilidade construída. Segundo Maíra Martinello, foram necessárias estratégias para garantir a sobrevivência e a relevância no meio digital, que exige mais agilidade, versatilidade e presença em todas as plataformas.

“A gente foi entrando nesse mundo online, digital. Claro que tem pontos positivos, como o custo mais baixo, a praticidade e a democratização do acesso à informação. Mas a era digital exige muito mais do jornalista, que hoje precisa escrever, gravar vídeo, áudio, editar, usar várias ferramentas ao mesmo tempo”, explica.

A transição da notícia do impresso para o ambiente digital, embora tenha sido impactante para todo o campo jornalístico, foi recebida de maneira diferente por cada veículo, conforme suas particularidades. Outro nome importante da imprensa acreana, como o jornal O Rio Branco, também enfrentou esses momentos de transformação.

Portal de notícias oriobranco.net. Foto: Ádrya Miranda

Mendes também reforça a necessidade dos jornalistas manterem seu compromisso social, mesmo diante das mudanças impostas pela era digital. “Se vocês forem jornalistas e pretenderem ser responsáveis, não esperem que a notícia chegue até vocês. Vocês têm que ir atrás da notícia”, conclui.

Essa transformação também é percebida por leitores que acompanharam de perto o auge das edições impressas no Acre. “Porque o jornal é um documento, então ele vai ficar ali para sempre”, comenta o jornalista e leitor assíduo Gleilson Miranda, de 55 anos, ao destacar que o jornal impresso carrega um valor que vai além da notícia do dia, mas também a documentação de histórias.

Segundo ele, com o jornal impresso era possível encontrar experiências afetivas, que marcavam seu momento de leitura.

“O jornal é impresso, tem esse charme, tem essa coisa de você sentar, tomar um café e folhear as páginas, lendo as principais notícias. Isso era muito bom para a época. Hoje você tem essa notícia mais rápida. Notícia que chega muito rápido”, afirmou Gleilson, ao relembrar as sensações que os impressos lhe proporcionaram.

A transição dos jornais impressos para os portais digitais no Acre marca uma mudança profunda no modo de fazer e consumir jornalismo. Conhecer a história da imprensa local, com a contribuição das edições do A Gazeta e O Rio Branco, é essencial para entender o papel que esses veículos tiveram na formação da identidade e da memória do estado.

Edição impressa O Rio Branco. Foto: Arquivo Espaço Cultural Palhukas

Para Narciso Mendes, atual proprietário da TV Rio Branco, o impresso no Acre carrega o legado de muitas figuras marcantes da história local. No entanto, a migração do jornal impresso O Rio Branco para o meio online não teve o mesmo peso como teve para os demais veículos.

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Cotidiano

Mulheres jornalistas superam dificuldades e levantam questões importantes para a sociedade

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Um estudo realizado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) mostrou que em 2021 49% das mulheres jornalistas sofreram ataques de gênero sendo desqualificadas com ofensas e xingamentos. No meio digital, o número sobe para 56,76%. Em uma área historicamente dominada por vozes masculinas, apesar das dificuldades as mulheres estão se destacando cada vez em maior número e trazendo à luz temáticas importantes para a sociedade.

Juliana Lofêgo, professora do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Acre, diz que a presença das mulheres está influenciando na cobertura de questões sociais, culturais e políticas. Para Lofêgo, elas têm desempenhado um papel significativo em destacar questões de violência contra mulheres e assédio, garantindo que essas problemáticas não sejam esquecidas ou minimizadas pela mídia. “Com o avanço do movimento feminista e as mudanças sociais, as mulheres jornalistas têm sido influenciadas a trazer à tona essas questões, mesmo que isso não tenha sido comum no início de suas carreiras”, complementa.

Consuela Araújo é jornalista formada pela Ufac e atua na área de assessoria de imprensa, ela relata que como jornalista mulher enfrentou estereótipos de gênero e discriminação ao longo da carreira, principalmente fora do jornalismo. Já no telejornalismo, outro campo onde atuou,  diz ter sido bem acolhida por colegas e pela comunidade, entretanto considera que a busca pela igualdade de oportunidades continua sendo uma luta constante. Araújo aconselha as futuras profissionais a buscarem aprimoramento, construir uma rede de contatos sólida e manter a paixão pela verdade e pela narrativa honesta. “Acreditar na importância do jornalismo local é essencial para contribuir significativamente para a sociedade acreana”, afirma. 

Servidora concursada do Estado, a jornalista Andreia Nobre relata que um grande desafio que enfrentou na carreira profissional foi quando se tornou mãe, pois teve que conciliar a maternidade e o trabalho. Ela acredita que esse seja um desafio para as mulheres em qualquer carreira e também para as que trabalham no setor privado.

Apesar das contribuições significativas das mulheres para abordar agendas importantes a serem discutidas na sociedade, a desconfiança em relação a sua capacidade profissional ainda é uma realidade. Ana Paula Melo, estudante do terceiro período do curso de Jornalismo, trabalha como estagiária no jornal Cidade Alerta, ela diz que percebeu que há um preconceito dentro da universidade pelo fato de ser uma mulher estudante de Jornalismo.

“Já vi algumas pessoas torcerem a cara num tom de desconfiança quando falo que faço Jornalismo. Alguns já dizem que somos compradas, e, às vezes, por ser mulher, dizem que ao invés de buscar informações, buscamos fofoca. Em rodinha de amigos, embora ainda seja estagiária, já fui questionada se algum político me paga para fazer matéria sobre ele. Será se eu não tenho capacidade para escrever sobre política? São reflexões que sempre me questiono, afinal, ser mulher é ter a sua capacidade sempre questionada”. Ela acredita que o maior desafio é alcançar credibilidade equivalente a dos homens e enfatiza a importância de inserir mais mulheres em posições de liderança nos veículos de comunicação. 

Texto produzido pelos acadêmicos Ana Caroline Santiago, Adriely Gurgel, Maria Eduarda Melo, Rian Pablo de Oliveira e Júlia Andrade. A produção faz parte da disciplina Fundamentos do Jornalismo.

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