Conforme a pandemia começa a perder força, as pessoas começam a buscar novamente formas de se exercitar, socializar, aprender e trocar histórias após meses distantes da rotina de um mundo normal. Todos os itens citados anteriormente podem ser encontrados em alguns lugares de Rio Branco. E melhor, gratuitos.
Oferecidos pela Prefeitura, por meio da Fundação Municipal de Cultura, Esporte e Lazer Garibaldi Brasil (FGB), os centros culturais são espaços de difusão cultural, esportiva e lazer espalhados por bairros da capital em benefício das comunidades.
Um dos centros, o Lydia Hammes, localizado no bairro Aeroporto Velho, viu recentemente um dos projetos desenvolvidos em sua sede completar 16 anos. O Projeto Capoeira Recreativa – Ginga Melhor Idade comemorou junto ao Projeto Mameluco Capoeira um evento que acontece todos os anos com abertura nas dependências do centro cultural. A programação da comemoração se estendeu por um final de semana e contou com diversas atividades, entre elas dança de rua, forró, apresentação musical, palestras e o batizado e troca de cordas dos mestres graduandos.
Idealizador do projeto, Mestre Moreno diz que o evento tem grande importância no aprendizado entre os mestres de capoeira. “É um evento de continuidade, já estamos aqui no Centro tem mais de 16 anos, e todo ano fazemos o encontro dos mestres. É uma festividade onde fazemos um intercâmbio cultural e trazemos os mestres de outros estados para trocarmos informação, aprender um pouco um com o outro”, afirma o mestre.
Coordenador do Centro, Álvaro Gomes agradeceu a confiança do mestre em escolher o centro como local para as aulas. “É um projeto de grande importância para a comunidade, já faz 16 anos que é feito aqui no centro e só temos a agradecer ao mestre Moreno por escolher o centro para realizar esse evento, aos mestres que vieram de fora para participar, e a FGB pelo apoio prestado”, destaca Álvaro.
É notório a contribuição da capoeira, além de outras atividades desenvolvidas nos centros culturais, para a comunidade presente nos bairros. Nesse sentido, o Mestre Chaguinha, convidado para o evento, agradeceu e chamou atenção para a importância do esporte.
“Para mim foi uma alegria muito grande ter sido convidado pelo mestre Moreno para participar do festival aqui no Acre, nós já temos essa integração da capoeira do norte, então é muito bom participar e rever os amigos. A capoeira tem uma participação muito grande na comunidade, em todos os estados, a capoeira, socialmente, ela é muito praticada e de grande importância para as comunidades”, frisa.
O Projeto Capoeira Recreativa – Ginga Melhor Idade comemorou junto ao Projeto Mameluco Capoeira um evento que acontece todos os anos com abertura nas dependências do centro cultural. Foto: Acervo FGB
Moradora da comunidade, a dona Luiza Peregrina já participa há dois anos do projeto desenvolvido no Lydia Hammes, costuma ir três vezes por semana ao centro e destacou a sua importância para a comunidade. “Eu acho isso aqui muito gratificante pra gente. As vezes nos sentimos um pouco para baixo, mas quando chegamos aqui é um ânimo total. O professor se desdobra pra ajudar, todo mundo é amigo, isso é bastante gratificante para nós. A ginástica, os exercícios, são muito bons para a saúde, e espero que continue sempre, que nunca se acabe, que cada dia aumente mais”, diz entusiasmada.
Dona Luiza Peregrina já participa há dois anos do projeto desenvolvido no Lydia Hammes, costuma ir três vezes por semana ao centro. Foto: acervo FGB
As atividades desenvolvidas nos Centros Culturais são gratuitas, se estendem as vezes de segunda a segunda, com horários e atividades diversas. Para participar de alguma delas, a pessoa interessada precisa apenas ir até um dos centros, portando um documento de identificação, verificar se ainda há vagas disponíveis e realizar sua matrícula. Para mais informações, pode-se acessar a página do Instagram da Fundação Garibaldi Brasil.
Centros Culturais de Rio Branco
• Centro Cultural Lydia Hammes Endereço: R. Rio Grande do Sul, Nº1120 – Aeroporto Velho, CEP: 69911-036 Atividades: Balé, Jazz, Violão, Aero-Ginga, Pilates, Funcional, Jiu-Jítsu, Capoeira, Taekwondo, Forró, Swingueira, Cigana/Dança do Ventre.
Segunda a Sábado
Horário: 8h às 21:30h
• Centro Cultural Thaumaturgo Filho Endereço: R. Luiz Z da Silva, Nº 476 – Estação Experimental, CEP: 69918-452
Atividades: Dança, Capoeira, Yoga, Street Dance, Hip-Hop, Jiu-Jítsu, Aikido, Jazz e K-Pop.
Segunda a Domingo
Horário: 8h às 22:30h
• Centro Cultural Dona Neném Sombra Endereço: R. 16 de Outubro, Nº 653 – Quinze, CEP 69905-538
Atividades: Jiu-Jítsu, Ginástica Laboral, Capoeira, Forró e Taekwondo.
Segunda a Sábado
Horário: 8h às 21:30h
• Centro Cultural Taquari Endereço: R. do Passeio, N° 1883 – Taquari, CEP: 69906-500
Ao manter viva a culinária típica do Acre, cozinheiro conquista turistas e moradores com sua famosa rabada no tucupi.
No Mercado do Bosque, um prato típico do Acre ganhou status de tradição: a rabada. Preparada há mais de três décadas por Antônio Felinto Alves,, eleviu seu nome atrelado à rabada, além de ser também o Toinho do Tacacá.
A iguaria se tornou referência gastronômica para acreanos e turistas. Seu Antônio iniciou sua trajetória aprendendo com Dora, uma cozinheira tradicional também muito conhecida pelos acreanos. Com o tempo, decidiu seguir carreira solo e consolidar seu próprio negócio. Hoje, acumula 35 anos de experiência e 18 certificados na área gastronômica.
“Quanto mais a gente se aprofunda nos temperos, no jeito de preparar, melhor fica. O segredo da rabada perfeita é cozinhar com carinho e amor, não apenas vender por vender”, afirma. Mesmo com décadas de tradição, Toinho também se adaptou às modernidades. O iFood tornou-se parte fundamental do negócio. “Nos tempos de friagem, chegamos a 90 ou 100 pedidos por dia. Nosso ponto forte é no aplicativo”, explica.
A fama atravessa fronteiras. Segundo ele, os turistas que chegam ao Acre procuram diretamente por seus pratos. “O pessoal, quando vem aqui, me fala que vai levar rabada para Brasília, Goiânia, Santa Catarina. Nosso sabor viaja junto com eles”, relata com orgulho.
Para o comerciante, o segredo do sucesso é manter a fé e a dedicação:“Quando o pessoal diz que está ruim, eu não concordo. Se você tem saúde e acorda enxergando, já é motivo para agradecer a Deus. O resto a gente corre atrás.”
A dor em palavra: Gabe Alódio prepara “A Casa de Vidro”
Após a estreia visceral com Fogo em Minha Pele, autora acreana lança novo romance que mistura silêncio, fragilidade e arquitetura emocional. Foto: Rafaela Rodrigues
O segundo livro de um autor, na maioria dos casos, revela muito mais do que o primeiro.
Se a estreia é a urgência de se apresentar ao mundo, a obra seguinte já nasce sob a consciência de que o público, e a própria autora, esperam algo. É nesse momento que Gabe L. Alódio, escritora acreana de 29 anos, se encontra com “A Casa de Vidro”, romance que será lançado em setembro e lançado em Rio Branco no dia 16 de outubro, às 19h, no Cine Teatro Recreio.
O título não é literal. Trata-se de uma metáfora clara, assumida pela autora, para a fragilidade e a exposição do ego. A casa é moderna, cercada por vidro, mas cada detalhe arquitetônico foi mentalmente desenhado antes da primeira frase. Ela descreve: “Sei onde a luz atravessa os cômodos, onde a vista se abre e onde qualquer pedra provocaria a primeira rachadura. Vejo a Casa de Vidro como uma metáfora para a própria escrita, transparente na linguagem, mas vulnerável na exposição dos temas abordados”.
Da intensidade ao silêncio
Em Fogo em Minha Pele (2024), livro de estreia, Gabe apresentou uma poesia narrativa marcada pela intensidade física e emocional, algo que remete à lírica confessional e a um certo intimismo da tradição modernista.
Já em A Casa de Vidro, essa energia se desloca para o silêncio e para a construção de atmosfera. A autora se aproxima de estratégias de escritores como Marguerite Duras ou Joan Didion, que sabem que a ausência pode ser mais expressiva que a presença.
A protagonista, Sophia, vive isolada com o marido numa casa que funciona como personagem. A narrativa gira em torno da tensão entre manter e perder o controle. Como descreve a própria Gabe, é como equilibrar crises carregando uma bandeja cheia de xícaras empilhadas.
Publicado em 2024, Fogo em Minha Pele apresentou a escrita visceral e confessional de Gabe, marcada por desejo, corpo e memória. Foto: divulgação
Referências cruzadas
O material visual que a autora preparou para orientar a capa é revelador. A arquitetura modernista da Casa Samambaia, de Lota de Macedo Soares, convive com as aranhas de Louise Bourgeois, símbolos de criação e aprisionamento. Há também Maria Callas, figura que sintetiza glória e abandono, e a presença de Dionísio, que remete à ligação entre vinho, prazer e destruição. É uma curadoria imagética que mostra a amplitude de referências da autora, em diálogo com artes visuais, música e mitologia.
Entre o fogo e o vidro
Se o primeiro livro era fogo, ardente e direto, marcado por desejo e paixão, o segundo é vidro: calculado, transparente, mas pronto para quebrar e cortar fundo. Essa mudança revela maturidade narrativa, sem perder a visceralidade que caracteriza a autora.
O desafio agora será ver como A Casa de Vidro dialoga com o leitor. Como diz Gabe: ˜Escrever é fácil, viver é difícil”. Talvez este novo livro seja justamente um gesto de habitar esse difícil, transformando-o mais uma vez em palavra.
A cada segunda-feira, o campus da Universidade Federal do Acre (Ufac) vira palco para a Batalha da Ufac. Criada por um grupo de idealizadores da cena local, entre eles o estudante de Psicologia Davi Nogueira, a batalha é um espaço aberto para jovens expressarem suas histórias e críticas sociais por meio do rap.
O formato das batalhas de rap no Brasil surgiu no início dos anos 2000, inspirado por movimentos internacionais, e se consolidou em grandes centros como Rio de Janeiro e São Paulo.
Em Rio Branco, os eventos vem ganhando força desde a Batalha do Palácio, considerada a mais antiga da cidade, que era realizada às sextas-feiras na praça do Palácio Rio Branco.
Hoje o cenário local conta com eventos como a Batalha da Pista, do Santa Cruz e, principalmente, a Batalha da Ufac, que acontece no Teatro de Arena, conhecido como Coliseu, ao lado do Centro de Convivência.
Davi Nogueira destaca que o objetivo da batalha na universidade é democratizar o acesso à arte e trazer a comunidade para dentro do campus.
“Muita gente achava que não podia entrar aqui. O Coliseu da Ufac é o lugar ideal, com estrutura e visibilidade para um evento cultural”, explica.
Para os participantes, o evento é muito mais que uma disputa de rimas. Apache Shaft, MC que frequenta a batalha, conta que o encontro representa um espaço seguro para trocar experiências, fazer amizades e fortalecer a cultura local. “É meu abrigo nas segundas-feiras. Quanto mais rap, mais cultura, menos crime”, afirma.
Entre o público, o humorista e influenciador Rafael Barbosa valoriza o clima acolhedor da batalha e ressalta a necessidade de maior apoio para o evento crescer. “Aqui tem muita poesia e sentimento, mas faltam som adequado e divulgação do poder público”, sugere.
Momento em que os artistas fazem as batalhas. Foto: Felipe Salgado
Mais do que um show de talentos, a Batalha da Ufac é um importante instrumento de transformação social. Ao abrir as portas da universidade para a periferia, o evento reforça a ideia de que a cultura hip hop pode mudar vidas e fortalecer a autoestima de jovens, muitas vezes marginalizados.
Realizada de forma independente, a batalha conta com apoios voluntários e busca parceiros para ampliar sua estrutura. Na primeira edição, o evento lotou o Coliseu e conquistou mais de mil seguidores nas redes sociais antes mesmo de acontecer: um marco para o rap acreano.