Sinônimo de liberdade, o rock se tornou uma forma de expressão e manifestação para aqueles que não se encaixam nos movimentos dominantes do mainstream e nos estilos musicais como sertanejo, pagode, e samba que prevalecem nas festas e marcam o cenário cultural de Rio Branco. Nesse contexto surge a jornada musical de Alessandro Ferreira, um músico, advogado e idealista que dedicou parte de sua vida a criar um espaço onde a música e a arte pudessem fluir livremente, destacando-se como um exemplo de resistência cultural, e essa história vocês vão conhecer agora!
Alessandro Ferreira é um homem que possui muitas paixões, em especial o amor que compartilha pela mãe, mas, além disso, a paixão pela música, que também ecoa em sua vida desde cedo como uma melodia. Desde a infância, quando ouvia o rádio da avó, ele apreciava bandas como Pink Floyd, Creedence Clearwater Revival e as músicas brasileiras. Na adolescência, a arte também sempre o interessou, e foi a partir de festas da mãe e discos que recebia de presente que a música foi entrando em seu cotidiano e fazendo parte de sua vida.
“A música entrou na minha vida de várias formas, ela entrou na minha vida pelo rádio da minha avó, na casa dela, quando era criança, pelas festas que os amigos da minha mãe e do meu pai faziam aqui, pelos discos que a minha mãe me deu de presente e pelos artistas que ela me apresentou. A música também entrou na minha vida pelos amigos e pelos programas de TV que eu assistia, era a música e a arte que sempre me interessou.”
O rock, em particular, se tornou uma parte de sua identidade e o levou a formar bandas ainda na adolescência. Na época em que a internet e professores de música eram realidades distantes, Alessandro aprendeu a tocar guitarra de ouvido, com a ajuda de amigos e familiares, e foi ali, no início dos anos 90, que começou a realizar ensaios com amigos e adentrar no universo cultural da música, conhecendo e tendo como suas referências o Punk e o Rock.
Alessandro Ferreira. Foto: Fernanda Maia
“No momento estava acontecendo no mundo a New Wave, mas antes disso já tinha acontecido o pós-punk, antes disso havia acontecido o punk, então, nessa troca de ideias, a gente foi conhecendo essas coisas, fui conhecendo o Heavy Metal, até que veio Nirvana naquela transição do final dos anos 90, período que parece que deu uma explodida no mercado e foi tanta energia que todo mundo ficou sem saber o que fazer”
Entre leis e solos
Sua trajetória com a carreira musical nem sempre foi fácil, Alessandro pensava muito em uma forma de conseguir conciliar a paixão pela música com uma carreira estável. Além de cobranças que seus pais, e ele mesmo, faziam para as coisas darem certo, as dificuldades da vida muitas vezes fizeram com que ele desistisse da música por certos períodos de sua vida, mas no final sempre retornava a ela, por encontrar ali o seu porto seguro, assim como encontrava em sua mãe.
“Passei um bom tempo tendo muitos conflitos, larguei várias vezes de tocar e de querer fazer alguma coisa relacionada à música, porque por um lado tinha essas cobranças, por outro, dificuldades da vida, mas até que chegou um momento que percebi que não dava para eu largar isso, eu percebi que era a única coisa que me mantinha vivo. Essa era a única coisa que em determinados momentos tinha significado para mim, sempre foi uma luz, isso e minha mãe, porque sempre achei que tenho que fazer valer os esforços dela, não posso desperdiçar tudo o que ela fez por mim.”
Alê, além de músico, se formou em direito, em Curitiba, se tornou advogado e trabalha atualmente em uma bolsa de servidor público. Ele abraça o seu trabalho com gratidão por ser uma das coisas que proporcionou a compra de seus instrumentos e deu estabilidade para que conseguisse realizar seus sonhos na carreira musical, e abrir consequentemente o seu primeiro bar e espaço cultural em Rio Branco, o Loft.
Em 2008, no auge de seus 28 anos, Alê decidiu criar e abrir um espaço em que pudesse unir dois de seus grandes amores: o rock e a convivência com outras pessoas, e aquilo que se iniciou com festas dentro de sua casa se tornou o Loft, um bar que se tornou um marco cultural em Rio Branco, por ser um lugar alternativo àqueles que já existiam na cidade. O Loft não era apenas um bar, era um local para shows, onde artistas independentes e bandas autorais podiam se apresentar livremente, e para pessoas que, como ele, não se identificavam com a cultura dominante e buscavam um lugar para se expressar e se divertir.
Foto: Fernanda Maia
“Estava há 10 anos trabalhando numa instituição pública e não acontecia nada na cidade, eu achava que ia morrer aqui e não ia me divertir, não tinha o que fazer, eu não me identificava com samba, não me identificava com pagode, nunca me identifiquei com essa cultura, não é que eu não acho legal, mas eu nunca me identifiquei, então não era uma coisa que me divertia, sempre gostei de rock desde cedo, até que lá no final de 2008, comecei a fazer umas festas e passei seis meses fazendo festa para no final eu abrir um bar na minha casa, que chamava Loft. Foi onde comecei, convidei uns amigos para fazer a banda da casa, a gente fazia essa banda da casa e começou a convidar várias outras bandas.”
Power chords e boas lembranças
Durante quase uma década, o Loft foi palco de festas marcantes, que contavam histórias, e realizava shows de bandas locais e até de artistas de fora do estado. Foi um espaço que marcou positivamente gerações de pessoas por muito tempo e deixou um legado de resistência cultural em uma cidade onde o rock na época não tinha um espaço para ser ouvido pela maior parte da massa popular.
“As gerações passam, mas toda cidade legal tem um bar de rock que fica. Aqui em Rio Branco nunca teve, até esse momento, um Loft, aconteceram casos, mas nunca sobreviveram muitos anos. O Loft sobreviveu por uns 9, 10 anos.”
Devido a problemas com vizinhos, o Loft fechou suas portas anos depois, em um momento em que Alessandro sentiu a necessidade de se reinventar, mas por muitos anos foi sendo lembrado até hoje como um espaço onde a música e a arte conviviam de forma autêntica e onde pessoas podiam se expressar e viver suas histórias da melhor forma. Foi um período na vida de Alê marcado por muita alegria e gratidão, no qual ele pôde realizar seus sonhos de ter um espaço cultural em que podia se encontrar com as músicas de que gostava e proporcionar às pessoas uma experiência de livre expressão.
“Fiz especial do Jorge Ben Jor, especial do Tim Maia, os Discordantes estiveram aqui, gravaram o vídeo no Loft, Los Porongas tocaram aqui várias vezes, vieram alguns artistas de fora que às vezes tocaram aqui, enfim, era um lugar que tinha tantas pessoas, que até hoje, 17 anos depois, faço festas e as pessoas ainda lembram e querem que eu volte a fazer isso. Foi um uma casa que marcou uma época e marcou as pessoas e começou a criar um ambiente em que o rock podia se manifestar com um espaço legal.”
O rock vem para incomodar!
Apesar de ter encerrado os trabalhos no Loft, a música continuou em sua vida e ele focou em seu próprio processo criativo. Alê compôs e gravou suas próprias músicas. O período da pandemia de COVID-19 e outras dificuldades que teve ao longo do caminho serviram como um período de redescoberta. Além disso, aprendeu a tocar teclado e reacendeu sua paixão pela criação musical.
Nos dias atuais, inspirado por referências culturais, Alessandro se dedica a criar e produzir suas próprias composições e continua fazendo da música um dos fios condutores de sua vida. No entanto, em novembro de 2024, o Loft reabriu as suas portas mais uma vez e encontrou novamente gerações que se encaixam em uma cultura alternativa. Para ele, o espaço sempre foi um lugar mágico, onde as pessoas podiam se encontrar e ser felizes da forma que bem quisessem, sem se enquadrar nos padrões de uma cultura dominante.
“Esse não está em lugar nenhum e, ao mesmo tempo, está indo para algum lugar, é não ser nada, é poder ser tudo também, porque você não sabe o que vai acontecer, você está se aventurando, você está com o estado de espírito de aberto, sem saber o que vai encontrar, mas tá confiante, tá feliz, tá animado, o sol tá brilhando, o vento está na cara, e eu sinto que esse estado de espírito é o estado de espírito que descreve a energia do Loft. É um portal, um lugar muito diferente, sempre permite essas coisas. Para mim, aqui é mágico.”
Foto: Fernanda Maia
Para ele, o rock e lugares como esse são espaços de contestação e resistência que fogem do comum e unem pessoas.
“O rock não é para estar na moda, o rock é do contra, é para contestar, é para falar sobre o que está errado, sobre o que incomoda. Se dá certo em alguma hora, isso faz tanto sucesso que as pessoas gostam, mas não é para ele ser sucesso. O rock não é mainstream, o rock é contracultura, o rock é incômodo.”
Alessandro Ferreira não é só um músico ou advogado, é alguém que é defensor da cultura alternativa, que muitas vezes se torna marginalizada, e um exemplo de como o rock pode transformar vidas e comunidades. Sua trajetória foi marcada pela luta que tem em criar espaços onde pessoas e bandas, que não tinham outros lugares possam se expressar, especialmente em uma cidade como Rio Branco, onde existe uma cena dominante no cenário cultural. Além disso, outro de seus maiores desejos é construir um trabalho que de alguma forma toque o coração de alguém e deixe uma marca.
“O que eu quero é concluir um trabalho que eu considere artisticamente consistente, poeticamente interessante, e que toque o coração de alguém, que diga alguma coisa para uma pessoa.”
Mulheres que fazem acontecer: a força do trabalho manual no empreendedorismo acreano
Elas não apenas produzem: elas plantam, moldam, carregam, vendem e resistem. Em um cenário onde empreender não é só uma escolha, mas uma forma de sobrevivência, mulheres do Acre estão transformando o que têm — terra, cimento, fruta, memória — em renda, autonomia e permanência. Muitas fazem isso com as próprias mãos. Outras, com apoio da família. Mas todas compartilham algo em comum: a decisão de permanecer criando.
Elas não apenas produzem: elas plantam, moldam, carregam, vendem e resistem. Em um cenário onde empreender não é só uma escolha, mas uma forma de sobrevivência, mulheres do Acre estão transformando o que têm — terra, cimento, fruta, memória — em renda, autonomia e permanência. Muitas fazem isso com as próprias mãos. Outras, com apoio da família. Mas todas compartilham algo em comum: a decisão de permanecer criando.
Da colheita ao pote: Lucilene e a trajetória de um doce feito com raízes
Foto: Thaynar Moura
Lucilene Nonata, de 58 anos, vive com o marido em um sítio no interior do Acre. Foi ali que, há cerca de duas décadas, ela decidiu começar a fazer doces com frutas do próprio quintal. “Meus filhos estavam entrando na adolescência e eu queria fazer algo meu, que também ajudasse na renda da casa”, conta.
A escolha pelo doce não foi aleatória: os pais de Lucilene já faziam compotas com frutas temporãs, e o marido, cearense, também gostava de preparar receitas simples. “Foi natural. Começamos com o que a gente tinha: cupuaçu, mamão, banana. O leite vinha do vizinho.”
Foto: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal
Hoje, mesmo com o pomar envelhecido e parte da matéria-prima comprada de produtores vizinhos, o processo segue artesanal. Tudo é feito por Lucilene e o esposo, desde a limpeza até o ponto do doce. A venda acontece em feiras e comércios locais, e o contato com o público é parte do valor do produto. “As pessoas perguntam se é a gente mesmo que faz. Criamos laços. Muitos viram amigos.”
A formalização veio com apoio do Sebrae, que orientou desde o registro como MEI até a criação dos rótulos e da tabela nutricional. “O Sebrae foi nosso primeiro e melhor parceiro. Nos abriu portas e deu acesso a linhas de crédito, cursos e assistência técnica”, relata.
Foto: Thaynar Moura
Apesar dos avanços, o desafio é constante: o alto custo dos insumos e a concorrência com produtos industrializados. “É difícil competir. Nosso estado não é rico. Mas a gente vai atravessar essa fase também”, afirma Lucilene. E para outras mulheres que pensam em empreender, ela é direta: “Somos guerreiras. Se cada dia traz um leão, que venham os leões.”
Concreto, família e criação: a arte que resiste com Elizabete e Maria Eliane
Elizabete Monteiro tem 25 anos e voltou ao Acre em 2025, depois de concluir a graduação em Curitiba. Junto com a mãe, Maria Eliane, de 61, criou o negócio “Arte em Concreto”, voltado à produção manual de peças decorativas feitas a partir de cimento, areia, pedrita e moldes reaproveitados.
Foto: Arquivo Pessoal
“O gosto pelo artesanal sempre veio da minha mãe. Quando ela ia passar um tempo comigo, ficava procurando o que fazer com as mãos”, lembra Elizabete. A dupla começou estudando técnicas no YouTube e fazendo testes em casa, até descobrir formas de agregar valor às peças — como a inclusão de plantas e o uso criativo do concreto na decoração.
O trabalho é familiar. Elizabete e a mãe cuidam da produção. O pai ajuda nas feiras. A irmã apoia na divulgação digital. “É algo muito em família, e cada um colabora do seu jeito”, afirma.
Entre os maiores desafios, Elizabete destaca o início do processo. “É preciso vencer o medo de começar. Mostrar o que você faz e lidar com o marketing exige constância.”Atualmente, participa da associação “Elas Fazem Acontecer”, formada por mulheres empreendedoras que organizam feiras e dão suporte às expositoras. “Faz diferença. A gente se sente parte de algo.”
Foto: Arquivo pessoal
A empresa começou a vender peças há cerca de um mês, e uma das metas de Elizabete é investir mais na divulgação pelo Instagram. “Hoje, se você quer saber de algo de uma loja, já vai direto no Instagram. Quero turbinar as postagens.”
Para ela, o mercado de decoração artesanal está crescendo. “As pessoas querem peças com identidade, que sejam únicas.” E para outras mulheres que sonham empreender: “Persistam. Se você ama o que faz, o retorno vem. Mas é preciso estar atenta às novidades e criar com propósito.”
Arte, dedicação e persistência: de uma conversa entre amigas ao ateliê em casa – o sonho de Adriana
Adriana Balica, 32 anos, é proprietária da FazerArt Personalizados, um ateliê montado na própria casa, onde ela cuida de tudo: do atendimento à criação das artes e à embalagem personalizada. “A FazerArt nasceu numa conversa entre amigas, juntando minha paixão pelo trabalho manual. Hoje, faço tudo sozinha,” conta.
Para Adriana, empreender é uma jornada que exige atenção constante. “Empreender é uma tarefa extremamente difícil, pois temos que dominar um pouquinho de cada coisa e estar sempre atenta a todos os detalhes. Há dias e dias, há altos e baixos, assim como a nossa vida”, reflete.
Foto: Thaynar Moura
Assim como as outras mulheres desta reportagem, Balica destaca o apoio do Sebrae. “O Sebrae sempre esteve de portas abertas pra ajudar, tirar dúvidas, oferecer cursos, palestras e concursos. Sempre que posso, participo.”
E sobre tecnologia? Ela brinca: “Não uso nenhuma tecnologia avançada, eu acho, kkk.”
Para quem pensa em empreender, Adriana tem um conselho: “Lute! Lute pelos seus sonhos. Deus não coloca sonho no nosso coração que a gente não possa alcançar. É difícil, cansativo, cheio de desafios, mas vale a pena! ”
Onde termina o produto, começa a história
Fonte: DataSebrae (Relatórios trimestrais de Empreendedorismo Feminino, 2022–2024)
As histórias de Lucilene, Elizabete e Adriana, não são exceções. Elas representam milhares de mulheres no Brasil e no Acre que vivem daquilo que fazem, cultivam ou aprendem. Os dados mais recentes reforçam o que as histórias contam: empreender, para muitas mulheres, é uma decisão moldada pela necessidade, mas sustentada pela criatividade e pelo trabalho diário. Que trabalham com o corpo, com a memória e com o tempo.
No Acre, o número de mulheres à frente de negócios oscilou nos últimos três anos. Segundo dados do DataSebrae, em 2022, eram 23.564 empreendedoras no estado. Em 2023, esse número caiu para 20.453, representando 23,7% do total de donos de negócios. No entanto, em 2024, houve uma leve recuperação: 21.350 mulheres atuavam como donas de negócio no estado no 4º trimestre, o que representa 25,1% dos empreendedores locais.
Esse avanço percentual, frente aos 23,7% registrados no ano anterior, revela uma retomada gradual da presença feminina no mercado.
Em números nacionais, 42% dos empregadores ou trabalhadoras por conta própria no Brasil são mulheres — um universo de 10,4 milhões de empreendedoras que movimentam a economia com pequenos negócios, muitas vezes construídos no quintal, na sala de casa ou em uma feira.
O aumento na participação percentual indica que as mulheres seguem ocupando espaço, criando soluções e sustentando seus negócios com o que têm – seja terra, concreto ou papel.
Excomungado: quando a música acontece apesar de tudo
Em uma cidade onde a cultura muitas vezes é negligenciada, a Excomungado surgiu. Uma banda composta por músicos de nascença, jovens e com muita vontade de fazer um som. Formada por Carlos “Carlinhos” Hofre, Ícaro Moreira, Roberto “Bala” Padula e Lucas Alefe, a banda é mais do que um grupo de músicos, é um coletivo de amigos que transformou a paixão pela música em um projeto autoral, cheio de personalidade e força. De shows por diversão até planos ambiciosos para o futuro, a Excomungado traz consigo a prova de que o que falta na cultura do Acre é investimento.
Em uma cidade onde a cultura muitas vezes é negligenciada, a Excomungado surgiu. Uma banda composta por músicos de nascença, jovens e com muita vontade de fazer um som. Formada por Carlos “Carlinhos” Hofre, Ícaro Moreira, Roberto “Bala” Padula e Lucas Alefe, a banda é mais do que um grupo de músicos, é um coletivo de amigos que transformou a paixão pela música em um projeto autoral, cheio de personalidade e força. De shows por diversão até planos ambiciosos para o futuro, a Excomungado traz consigo a prova de que o que falta na cultura do Acre é investimento.
A história da Excomungado começa com as trajetórias individuais de seus integrantes que, desde cedo, estiveram imersos no mundo da música. Carlinhos, o compositor e vocalista, começou a tocar violão aos 8 anos, aprendendo com o avô. Sua paixão pela música só cresceu após aulas com o renomado Geraldo Aquino, popularmente conhecido como Mestre Geraldinho, que ele descreve como um “gênio do violão”. Apesar de sua timidez em assumir o papel de frontman, Carlinhos é a alma criativa da banda, responsável pelas letras e melodias que definem o som da Excomungado.
Excomungado é uma banda composta por músicos de nascença, jovens e com muita vontade de fazer um som. Foto: Pan de Almeida
Já Ícaro, o baixista da banda, começou no violão aos 13 anos, aprendendo com o ex-cunhado, que é formado em música. Mais tarde, migrou para o baixo e conheceu o resto dos integrantes, assim acabou entrando para a Excomungado. Além da banda principal, Ícaro participa de vários projetos paralelos, incluindo covers de Radiohead, com a banda Superflat, e Terno Rei em um projeto entre amigos programado para ocorrer no dia 18 de abril, às 21h, no Studio Beer.
Bala, o baterista, cresceu em meio ao som de instrumentos. Filho de músico, ele começou a tocar bateria quase que por acidente, quando sobrou o instrumento após um ensaio da banda do pai, ele e os amigos decidiram tocar e, de acordo com ele, “a bateria foi o que sobrou”, disse rindo. Desde então, já passou por mais de 15 bandas, incluindo a Nickles, onde toca baixo. Sua experiência no cenário musical em Rio Branco e na música em si agregam muito ao desenvolvimento da Excomungado no cenário.
Por fim, Lucas, o guitarrista, começou na bateria aos 9 anos, mas foi com a guitarra do pai que ele realmente se encontrou. Autodidata, aprendeu a tocar sozinho, desenvolvendo um estilo único que hoje é uma das marcas da banda. Sua abordagem livre e cheia de personalidade traz uma sonoridade autêntica para a Excomungado.
O Nascimento da Excomungado
A banda surgiu em 2019, em meio do caos da pandemia, quando Carlinhos, então com 14 anos, decidiu transformar suas composições em um projeto coletivo. Ele convidou Lucas, que já tocava na banda Selfless, focada em músicas do rock grunge, e juntos formaram a primeira formação da Excomungado, com Pedro na bateria, Mika no baixo e Isa no vocal. O primeiro show foi em um sarau na Ufac, um evento de artes cênicas, onde tocaram ao lado de outros artistas locais.
Banda Excomungado está presente nas noites de Rio Branco. Foto: Pan de Almeida
Desde então, a Excomungado cresceu e se consolidou como uma das principais atrações do cenário underground de Rio Branco. O nome da banda, que surgiu como uma brincadeira, ganhou significado ao longo do tempo, representando a resistência e a autenticidade de um grupo que não se encaixa nos moldes tradicionais da música no Acre.
A Excomungado é um reflexo da realidade da cena musical de Rio Branco, onde os desafios são muitos, mas a paixão pela música é maior ainda. A falta de investimento em cultura, a escassez de espaços para shows e a dificuldade em conseguir editais são obstáculos constantes. “Aqui em Rio Branco, as bandas não têm investimento, nem lugar para tocar”, desabafam todos os membros, tanto como banda, quanto como músicos em busca de um espaço.
Apesar das limitações, a banda não se deixa abater. Eles já gravaram várias músicas em casa, usando equipamentos simples e muita criatividade. “A gente gravou no quintal, com uma pedaleira, um PC de 4 GB de RAM e microfones baratos”, conta Ícaro. A falta de recursos não impede a qualidade, as músicas da Excomungado são autênticas e cheias de personalidade, mostrando que a música autoral acontece independente das condições precárias.
A Excomungado não quer ficar restrita às garagens de Rio Branco. O principal objetivo da banda é conseguir um edital para gravar um álbum autoral, reunindo músicas antigas e novas. Eles já têm o projeto na cabeça, mas falta o recurso financeiro para colocá-lo em prática. “O objetivo é gravar, viajar e divulgar nosso trabalho”, diz Bala.
A Banda não quer ficar restrita às garagens de Rio Branco. Foto: Pan de Almeida
Em 2024, a banda lançou seu penúltimo single até o momento. A música “Bon Appétit” saiu no dia 10 de fevereiro e hoje já tem mais de 10 mil reproduções no spotify, chegando a ser citada na quinta posição da lista de “melhores músicas de 2024” de um comentarista do sudeste asiático que diz estar ansioso para os futuros lançamentos da Excomungado.
Com músicas produzidas por D.Silvestre, produtor de Rondônia que segue em ascensão na cena musical brasileira ganhando destaque principalmente pelo funk, a Excomungado busca criar algo único dentro da música, juntando suas referências que vão do rock clássico ao funk ao brega, eles alcançam um público grande contando com mais de 4 mil ouvintes anuais no spotify, cerca 17 mil streams em suas músicas com ouvintes distribuídos pelo mundo todo, da França a Indonésia.
A Excomungado é hoje uma promessa. Com o trabalho que realizam, eles mostram que a música autoral pode florescer, mesmo em condições adversas. Com talento, criatividade e muita paixão, Carlinhos, Ícaro, Bala e Lucas transformam desafios em música, provando que o rock de Rio Branco tem voz, força e futuro.
Localizado no bairro Tucumã, o Tonheiros é um dos bares mais antigos de Rio Branco ainda em funcionamento. Fundado em agosto de 1980 e hoje sob nova administração, o bar carrega o nome de seu fundador e se tornou um refúgio para gerações de universitários.
Por Ana Flávia Santos, Camila de Souza, Clécio Nunes, José Hélio Vitalino e Luísy Rodrigues*
Localizado no bairro Tucumã, o Tonheiros é um dos bares mais antigos de Rio Branco ainda em funcionamento. Fundado em agosto de 1980 e hoje sob nova administração, o bar carrega o nome de seu fundador e se tornou um refúgio para gerações de universitários.
A proximidade com a Universidade Federal do Acre (Ufac) consolidou o espaço como um ponto de encontro para comunidade acadêmica onde debates fervorosos, romances inesperados e sonhos revolucionários se misturam ao cheiro de cerveja barata e ao som escolhido pelo público. Entre mesas gastas pelo tempo e copos sempre cheios, o local testemunhou mudanças sociais, amores nascendo e amizades se fortalecendo.
Mas o que torna esse bar memorável? Estaria o segredo apenas nas bebidas ou na atmosfera criada por seus frequentadores? O Tonheiros parece ter encontrado a fórmula ideal para atravessar gerações e seguir relevante, oferecendo um espaço de liberdade e pertencimento. O ambiente acolhedor, sua história enraizada na vida acadêmica e a capacidade de se adaptar sem perder a essência o tornam um verdadeiro patrimônio boêmio.
O legado de “Seu” Tonheiros
Aos 72 anos, Antônio dos Rios Nonato, o ‘Seu’ Tonheiros, relembra a trajetória como fundador do bar que leva seu apelido de infância. Após uma desavença com um cliente, ele decidiu fechar seu primeiro estabelecimento, localizado no bairro Volta Seca, e recomeçar os negócios no bairro Tucumã. “Aqui tudo era mato nessa época”, recorda. No entanto, ao abrir o novo bar, o movimento cresceu rapidamente e nunca mais parou.
Antônio dos Rios Nonato, o ‘Seu’ Tonheiros. Foto: Cedida
Mesmo com décadas de sucesso, o momento mais difícil veio quando em 2013 uma cirrose hepática o forçou a se aposentar. “Eu não decidi, foi coisa do destino. Porque eu adoeci, e quando a doença vem, não vem só para mim, vem para todos”, lamenta. Apesar do desafio, ele destaca que, desde o início, sempre contou com o apoio da família e dos estudantes que frequentavam o bar.
Sem condições de continuar trabalhando, passou a administração do bar para outras duas gestões. Ramilson, um dos seus ex-funcionários, foi o primeiro. Em 2019, para o atual dono do estabelecimento, Gabriel Santos, mantendo viva a tradição do estabelecimento que marcou gerações.
Novos tempos, mesma identidade
Gabriel Santos, atual proprietário do bar, afirma que a modernização do espaço buscou equilibrar a tradição com a necessidade de adaptação. “A ideia era manter a identidade visual, manter a identidade de bar raiz e, ao mesmo tempo, modernizar alguns quesitos”, explica. Algumas das mudanças incluíram a introdução de novos produtos, a melhoria da cozinha, a promoção de eventos e a adequação do espaço para garantir mais higiene e segurança.
Gabriel Santos, gerente do Tonheiros atualmente. Foto: Cedida
A modernização, no entanto, não comprometeu a essência do bar, que continua sendo um ponto de referência para universitários e moradores da cidade.
Um patrimônio afetivo da cidade
“Todo mundo sabe onde é o Tonheiros, quem nunca frequentou já ouviu falar.” A frase de Medusa Santos, estudante de Pedagogia na Ufac e frequentadora do bar há mais de dois anos, resume o lugar que se mantém como um verdadeiro marco na cidade. O bar, com sua atmosfera única, carrega as marcas de uma história que atravessa o tempo, gravada tanto nas memórias individuais quanto nas coletivas daqueles que por ali passam.
Aleta Dreves, jornalista e professora da Ufac, frequenta o bar há mais de 13 anos e comenta sobre as transformações que o lugar experimentou ao longo do tempo: “com a nova administração mudou muita coisa, principalmente a parte de cozinha que era praticamente inexistente antigamente”.
Frequentado por estudantes e moradores de Rio Branco, o Tonheiros Bar se destaca como um espaço acolhedor, tranquilo e seguro. “É um bar muito tranquilo, comparado aos outros bares de Rio Branco. Não é um bar onde a gente vê uma alta taxa de violência”, afirma Aikon Vitor, estudante da Universidade Federal e cliente assíduo. Além do ambiente pacífico, o bar é reconhecido por sua diversidade de público. “As regras que existem são de segurança mesmo, questão de briga de bar, que ele tenta sempre evitar. Esse conservadorismo a gente não tem mais”, destaca Ranna Macedo, frequentadora desde 2016.
O refúgio dos universitários
Para muitos universitários, o bar é um refúgio da rotina acadêmica intensa. “O meio universitário é muito difícil […] é muito bacana você sair de uma apresentação, sair de um TCC, de um seminário e vir aqui afogar as mágoas no Tonheiros”, compartilha Medusa Santos.
O que torna o bar memorável não é apenas a bebida ou a localização, mas a experiência coletiva que ele proporciona. “A bebida gelada, o vento, as músicas bregas, Reginaldo Rossi, as cadeiras de plástico, a galera gente boa, as pururucas… Todo o contexto dele faz esse lugar ser especial para mim. É um conjunto, né? Não é algo em si, mas cada detalhe que tem nesse bar é o que faz ele ser especial. A essência dele. É essência”, reflete Aikon Vitor.
Mais do que um bar, Tonheiros é parte da trajetória de muitos. “Foi um lugar que fez parte da minha estrada. Tenho um carinho imenso por aquele lugar”, revela Ranna Macedo, psicologa formada pela Universidade Federal do Acre. O sentimento de pertencimento vai além da nostalgia: “Quando eu chegava lá morrendo de gripe, sem conseguir respirar, e o Seu Tonheiros dizia: ‘Minha filha, aqui um remédio para você’, e me dava uma dose de cachaça com mel, de graça. E essa não foi uma experiência só minha. Os mais antigos também lembram que ele sempre fazia isso pela gente. São essas pequenas coisas que acalentam o coração”, continua ela. No fim das contas, Tonheiros Bar não é apenas um bar: é um pedaço da vida de quem passa por lá.
Ouvir para crescer
Que o Tonheiros Bar é um estabelecimento bastante reconhecido e admirado por muitos é um fato. No entanto, como em qualquer negócio que visa oferecer a melhor experiência possível, é sempre importante considerar sugestões de mudanças e melhorias vindas dos seus clientes.
“Mais opções de bebidas”, sugere o frequentador Thalisson Maya, estudante de História na Ufac.Para o discente, embora o bar já ofereça um cardápio diversificado, a inclusão de novas opções poderia ser um diferencial interessante.
“A questão do banheiro seria um ponto a se melhorar”, destaca o cliente Ruan Gabriel, também estudante de História na Ufac e mediador na escola SESI, referindo-se à necessidade de maior manutenção da limpeza ao longo da noite. Um ambiente limpo e bem cuidado é essencial para garantir o conforto dos clientes.
Outro desafio que o Tonheiros Bar enfrenta é a infraestrutura. Apesar de ser de boa qualidade, o espaço pode ser considerado limitado. “Ele é pequeno para a superlotação de pessoas, para o tanto de gente que vem aqui”, comenta Medusa Santos.
Planos para um Futuro Próximo
Para os novos e antigos clientes do Tonheiros Bar, as mudanças no espaço são uma constante, algo que o próprio Gabriel, responsável pelo estabelecimento, confirma com entusiasmo. Ao ser questionado sobre os planos futuros para o bar, ele revela novidades: “A nossa ideia é fazer um rooftop, uma laje em português bem falado, ano que vem para a galera poder apreciar melhor o pôr do sol”
Gabriel enfatiza que as mudanças visam modernizar o espaço sem jamais perder a essência do tradicional bar. “A gente pretende ampliar a área de sinuca, a gente pretende ampliar banheiros, mas sem perder a essência, claro, do nosso barzinho”, explica. Assim, com essas transformações futuras, o Tonheiros Bar promete seguir se adaptando às necessidades do público.
Texto produzido na disciplina Fundamentos de Jornalismo sob supervisão do professor Wagner Costa