Siga a Catraia

Notícias

A doença do cupuaçu

Publicado há

em

 Primeiro caso de monilíase no Acre.  Arquivo/MAPA

Causando perdas na produção e aumento no custo para o controle, chega ao Acre a praga que afeta, também, a cultura do cacau

Por Carolina Souza Torres e Kamila Silva De Souza

Com o aumento do trânsito pelas fronteiras com o Acre, as chances de introdução de doenças no Brasil tornaram-se maiores, e isto inclui as transmissões de doenças em humanos, animais e plantas. O fungo conhecido como Monilíase do cacaueiro estava presente em vários países produtores de cacau da América Latina como Colômbia, Equador, Costa Rica, Peru, Venezuela e México. Recentemente foi registrado na Bolívia a ocorrência da doença, na região que faz divisa com o Estado do Acre. 

A Embrapa Acre disponibiliza em sua biblioteca digital diversas informações sobre a Monilíase do cacaueiro. Embora a Embrapa Acre não tenha respondido à reportagem, alegando não ter autorização do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para falar da ocorrência da doença no Estado, reunimos algumas informações que estão publicadas no portal da empresa. O fungo ataca frutos de plantas do gênero Theobroma como cacau e cupuaçu e os sintomas iniciais da doença ressaltam-se pelo escurecimento dos frutos. Após apresentar essa característica, em poucos dias ocorre a formação de uma grande quantidade de pó branco, que são os esporos do fungo. Esses são facilmente levados pelo vento, por animais ou respingos de chuva de um fruto doente para um sadio. No entanto, o homem é o principal disseminador da doença, quando transporta frutos de uma área infectada para áreas sem a doença.

Conforme informações do MAPA, um fruto  doente pode produzir cerca de sete bilhões de esporos na superfície da lesão necrosada. As características dos esporos do fungo facilitam a dispersão natural pelo vento. A contaminação pode alcançar até um quilômetro de distância. Mas, essa dispersão entre países ou regiões ocorre principalmente pela ação humana, através do transporte de frutos infectados, com fungos que podem sobreviver por até nove meses em qualquer superfície. Este pode ter sido um dos motivos dessa doença ter chegado em uma área urbana do município de Cruzeiro do Sul.

O MAPA decretou que o Acre está com sua área “sob quarentena”, para a Monilíase do cacaueiro. A quarentena tem efeito para todo Estado do Acre e consiste na proibição do trânsito de frutos e plantas hospedeiras da praga para outros estados do país. O estado continuará sob quarentena até que seja delimitada a área específica de ocorrência da praga e estruturadas as medidas de prevenção e erradicação previstas no Plano Nacional de Prevenção e Vigilância de Moniliophthora. 

Além das perdas econômicas e da produção, essa doença afeta muitos produtores rurais e a agricultura familiar que depende financeiramente do fruto do cacau e do cupuaçu para retirada da polpa e seus caroços para comercialização no mercado local. Membro da associação ACS Amazônia de produtores orgânicos, Nazira disse que não recebeu qualquer tipo de orientação dos órgãos fiscalizadores após a notificação da doença no Estado do Acre. De acordo com ela, cada um trabalha “por conta” e o que salva é a internet para que se mantenham informados. Em relação a qualquer praga ou fungo, “quando se tem um plantio grande e as árvores são altas, se a mesma tiver com alguma doença, a gente derruba a árvore na tentativa de conter que a praga se espalhe para as demais”. A ACS Amazônia afirma que a falta de orientação por parte dos órgãos sanitários dificulta o acesso a formas de prevenção das pragas em geral. A associação afirma não ter observado qualquer alteração nos seus frutos de cupuaçu.

O Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf) no Acre é o responsável pelo monitoramento e demais ações, trabalhando junto ao MAPA, à Agência de Defesa Sanitária Agrosilvopastoril de Rondônia (Idaron), e a Agência de Defesa Agropecuária e Florestal do Estado do Amazonas (Adaf). As instituições fazem levantamentos para estabelecer os limites da área infestada, junto com a aplicação de medidas fitossanitárias nas áreas infectadas para reduzir e eliminar as populações de pragas. Ações de fiscalização de trânsito são realizadas para proibir a saída de cacau e cupuaçu do Estado.

Todas as informações colhidas para essa matéria foram por meio de notas, e/ou declarações nos sites, portal ou diário oficial dos órgãos fiscalizadores de pragas ou fungos, e da Embrapa. Foram várias tentativas de entrevista e esclarecimentos, sem sucesso. Nazira foi entrevistada, e em seu relato, fala da ausência de informações e apoio dos órgãos responsáveis sobre essa e outras pragas e como os agricultores devem agir diante do possível problema.

Notícias

O desafio de pegar ônibus à noite na UFAC

Publicado há

em

por

Uma das maiores preocupações dos estudantes dos cursos noturnos é o deslocamento por transporte público. 

Por Akenes Mesquita e Felipe Nascimento

Estudantes enfrentam desafios significativos ao utilizar o transporte público para se deslocarem até suas residências durante o período noturno. A falta de infraestrutura adequada e os problemas de segurança são algumas das principais preocupações enfrentadas pelos estudantes que frequentam a Universidade Federal do Acre (Ufac).

Ônibus superlotados, atrasos frequentes e rotas limitadas são apenas algumas das questões enfrentadas diariamente pelos universitários. Além disso, a falta de iluminação adequada nos pontos de ônibus e nas vias públicas aumenta o sentimento de insegurança durante o trajeto para casa. 

O aluno do curso de Ciências Econômicas, Abimael de Souza Melo, considera a situação inadmissível em um país onde os cidadãos pagam altos impostos e deveriam contar com este  serviço público mais eficiente e acessível para todos. Ele relata as dificuldades enfrentadas ao utilizar o transporte público:“O último ônibus passa às 21h40, enquanto minhas aulas só terminam às 22h, o que gera um conflito de horários. Além disso, há um intervalo significativo entre os ônibus, por exemplo, um passa às 20h e o próximo só às 21h40, o que torna a espera prolongada”.

Foto: Akenes Mesquita

Segurança em risco

Outra preocupação significativa  é a segurança. O aumento da criminalidade na cidade, especialmente durante a noite, torna o deslocamento dos estudantes uma experiência estressante e arriscada. Relatos de assaltos em pontos de ônibus e dentro dos próprios coletivos são frequentes, gerando um clima de insegurança na comunidade acadêmica.

Fábio Alves, estudante de Economia, já foi assaltado no trajeto e fala sobre o sentimento de insegurança ao voltar para casa após um dia cansativo de trabalho e aula.

“Moro no bairro Nova Esperança e há dois ônibus que fazem essa linha: Fundhacre e o Rodoviária. Como meu curso termina às 22h, eu tenho que optar por um dos dois. Houve vezes em que optando pelo o Fundhacre, eu perdia o Rodoviária e o Fundhacre nem aparecia no terminalzinho”, lamenta ele, que já precisou recorrer a carros de aplicativo e ouviu relatos de roubos a outros estudantes.

Impacto no desempenho acadêmico

Os desafios não se limitam apenas ao aspecto físico e emocional, mas também têm um impacto direto no desempenho acadêmico. O estresse e a ansiedade causados pelos problemas de transporte e segurança podem prejudicar a concentração em sala de aula e comprometer o rendimento escolar.

A presidente do Diretório Central dos Estudantes da Ufac (Dce), Ingrid Maia, reconheceu que desde janeiro de 2024 estão recebendo algumas reclamações, principalmente em relação ao atraso dos ônibus, à falta de acesso dos veículos na Ufac e à qualidade dos mesmos.

“Encaminhamos denúncia à RBTRANS para que seja instaurada uma investigação e garantir que tais irregularidades não se repitam. Quanto à mudança de rotas, vamos levantar essas e outras pautas no Conselho de Transportes e Tarifas.” 

Ela também diz ter cobrado da administração uma maior efetividade nas rondas ostensivas e o retorno do diálogo com as instituições de segurança pública.”

Diante desses desafios, os estudantes clamam por soluções eficazes por parte das autoridades responsáveis. Medidas como aumento da frota, melhoria na infraestrutura dos pontos de ônibus e aumento da presença policial nas rotas de transporte público são algumas das demandas urgentes da comunidade acadêmica.

Continue lendo

Cultura

Retorno das supermodelos dos anos 2000 às passarelas no outono/inverno 2024

Publicado há

em

por

As brasileiras Caroline Trentini e Isabeli Fontana foram destaque na semana de moda de Paris.

Por Felipe Souza

A temporada outono/inverno 2024 tem sido um prato cheio para os amantes da moda “vintage” e das grandiosas modelos. Além de peças que remetem à época, as supermodelos dos anos 2000 retornaram com tudo nas passarelas de Nova York, Londres, Milão e Paris.

Muitas eras de modelos se encontraram em um curto período de tempo em que ocorreram as Semanas de Moda. Das brazilian bombshells às doll faces, os rostos mais conhecidos pela comunidade fashion mundial apareceram e brilharam nas cidades mais badaladas do mundo.

Não importava em qual desfile você assistia. Do mais ‘fashion’ ao mais comercial, as poderosas das passarelas dos anos 2000 estavam lá. Claro que o Brasil esteve presente, considerando que a maioria das grandes modelos no início do século era brasileira.

A gaúcha Caroline Trentini, por exemplo, representou o país nas passarelas da Schiaparelli, Carolina Herrera, Michael Kors e Max Mara. Além de Caroline, a paranaense Isabeli Fontana cruzou a Balenciaga e Alessandra Ambrósio, a icônica angel da Victoria’s Secret, fechou o desfile do estilista Elie Saab.

Caroline Trentini, Isabeli Fontana e Alessandra Ambrósio/Créditos: Condé Nast

Mas não foi só de brazilian bombshells que a moda dos anos 2000 viveu. A norte-americana Frankie Rayder também cruzou, assim como Fontana, as passarelas da Balenciaga. Rayder foi uma das favoritas de Donatella Versace na era de ouro da italiana ‘Versace’.

Frankie Rayder para Balenciaga/Créditos: Condé Nast

As Slavas, sem sombras de dúvidas, estavam em peso também. O maior nome da temporada foi Natasha Poly, a mais bem-sucedida russa. Poly desfilou para Max Mara, Ferrari, Dolce & Gabbana, Fendi, Mugler e, majestosamente, fechou a coleção da Acnes Studio.

Natasha Poly para Fendi/Créditos: Condé Nast

Ainda representando as Slavas, a lendária ucraniana Carmen Kass e – segunda maior modelo dos anos 2000, apenas atrás de Gisele Bündchen -, e a russa Natalia Vodianova, juntas,  receberam todos os holofotes da plateia presente no show da Vetements.

Hana Soukupova, com seus 1,85 metros, também fez um retorno com maestria e cruzou a francesa Balmain e ainda brilhou com um outfit todo preto do Elie Saab.

Carmen Kass, Natalia Vodianova e Hana Soukupova/Créditos: Condé Nast

Uma menção mais que honrosa: Gemma Ward para Max Mara. A doll face original, com seus cabelos loiros e olhos azuis, por muito tempo brilhou nas maiores grifes do mundo. Hoje, reclusa das câmeras, faz trabalhos selecionados e no outono 2024 foi escolhida para encerrar o desfile, além de ter reencontrado as amigas de longa data.

Gemma Ward, Natasha Poly e Caroline Trentini no backstage da Max Mara/Créditos: Arquivo pessoal/Caroline Trentini

Continue lendo

Histórias de vida

O Chefe deixou a calçada

Publicado há

em

por

Por Ludymila Maia e Beatriz Mendonça 

A pequena loja, localizada perto das margens do Rio Acre, com várias bugigangas à mostra, está há pouco mais de um ano sem a fervorosa animação e presença do seu dono. O falecimento de Tancredo Lima de Souza, ocorrido no dia 23 de agosto de 2022, aos 69 anos, deixou uma lacuna profunda naqueles que o conheceram e amaram.

Tancredo Lima de Souza veio do interior de Pernambuco para Rio Branco, com seu pai e irmãos, e logo começou a trabalhar para ajudar no sustento da casa. Como era o mais proativo, logo ganhou o apelido de Chefe. Sempre dedicado, exerceu várias profissões, dentre elas seringueiro, motorista de ônibus e táxi, mas seu coração pertenceu ao comércio. 

Começou desde jovem vendendo picolé, e, com o passar dos anos, passou a vender vassouras e tabaco. Conseguiu um ponto de vendas no Centro da cidade, trabalhou para manter sua loja junto de sua esposa, Maria José, e expandiu cada vez mais seu comércio. Virou o famoso Bazar Chefe, popular pela variedade de produtos tradicionais expostos para que todos aqueles que passam pelo local possam ver.

Começou a atrair uma grande clientela, que buscava utensílios que só o Chefe tinha e todos eram encantados pela humildade e vigor do vendedor. Assim foi construído um legado, que durou mais de 50 anos com clientes fiéis e amigos saudosos, que ainda se emocionam ao visitar a loja e não ver o Chefe no comando.

Bazar Chefe, um dos comércios mais tradicionais e populares de Rio Branco. Foto: Ludymila Maia

A saudade bate particularmente naqueles que compartilharam o privilégio de chamá-lo de pai. Segundo seus filhos, Cleudo José e Cleide Sandra, o pai sempre os incentivou para seguir seus passos e também foi um grande exemplo de honestidade, humildade e integridade. Além disso, os filhos lembram de seu coração bondoso que ajudava a todos.

Na cidade, ele era conhecido como um comerciante exemplar, alguém que deixou sua marca nas ruas e nos corações daqueles que tiveram a sorte de cruzar seu caminho. Para sua filha, ele era muito mais do que um pai, era um mentor, um guia. 

Ao falar sobre ele, a emoção na voz, pois sua jornada serviu como uma escola prática para seus filhos, uma lição de vida transmitida através das experiências do dia a dia. Seu pai, um verdadeiro mestre do comércio, ensinou não apenas a vender produtos, mas também a construir relacionamentos duradouros. 

“Ele era o meu pilar”, diz seu filho, com a voz repleta de reverência. “Ele não apenas direcionava nossos negócios, mas também na vida. Suas palavras eram um farol, estabelecendo o caminho certo a seguir”. Mesmo que sua presença física agora seja uma lembrança, o impacto de seus conselhos continua a moldar suas escolhas e ações. 

Os dois filhos do Chefe, Cleudo José e Cleide Sandra.  Foto: Ludymila Maia

“Humildade” é uma palavra que surge constantemente quando se fala dele. Ele era um homem que tratava todos com respeito e compaixão, independentemente da posição na sociedade. Sua presença calorosa e sincera deixou uma marca indelével nas pessoas com as quais interagiu e, até hoje, elas sentem sua falta. 

A voz de Francisca Lima, irmã de Tancredo, ecoa com carinho e saudade, relembrando as memórias de um homem cuja vida foi repleta de histórias e ensinamentos. “Ah, meu irmão… Como é difícil falar dele”, suspira a irmã, com os olhos cheios de emoção. “Ele era tudo para nós, um alicerce em nossa família e também na família de sua mulher. Seu coração era grande o suficiente para abraçar o mundo inteiro.”

O sepultamento de Tancredo não apenas trouxe lágrimas à sua família, mas também testemunhou o amor e o respeito que ele inspirou em toda a comunidade. “No dia em que o Chefe faleceu, ainda de madrugada, começou a chegar gente das fazendas, do interior, do seringal”, descreve sua irmã, destacando a influência imensa que ele teve. 

“Eu preferi não ver o Chefe”, admite ela, uma vez que a perda ainda é difícil de aceitar. “Ele foi nosso pai e nossa mãe, desde muito cedo ele assumiu as responsabilidades, sempre cuidou muito da gente, era tudo para nós, lembro de quando eu e minha irmã ficamos mocinhas ele comprava até batom para gente só porque sabia que nós gostávamos.” 

Uma paixão peculiar pela culinária emerge nos relatos da irmã, que com um sorriso afetuoso diz: “Lembro que meu irmão adorava peixe, ele gostava muito, sempre comia tambaqui até dizer chega.” Era na simplicidade da vida que o famoso Chefe do Novo Mercado Velho encontrou sua alegria, seja vendendo picolés nas ruas, ou incansavelmente juntando centavos para sua primeira banquinha. Nunca teve vergonha de sua história e  se orgulhava de seu passado. Apesar de não ter terminado seus estudos, foi um grande aprendiz da vida e também um grande professor para aqueles que o conheceram.

Continue lendo

Mais Lidas