Por Adélia Galdino, Gisele Almeida e Milena Queiroz
Segundo pesquisa do IBGE, a taxa chegou a 14,8%, e cerca de 56 mil pessoas estão buscando trabalho
Foto: Gisele Almeida
Os dados divulgados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – PNAD, mostra que a taxa de desemprego do primeiro trimestre do ano de 2022 teve alta de 1,6%, em relação ao ultimo período de 2021 (de outubro a dezembro), chegando a 14,8% da população do Acre. Em relação ao mesmo período do ano anterior, o aumento foi maior, chegando a marca de 3,2%. Enquanto isso, a média nacional chegou a 11,7%, com o estado do Acre se tornando o 5º estado do país com a maior taxa de desemprego, ficando atrás apenas da Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e Sergipe.
A PNAD é realizada em todo o Território Nacional desde sua implantação em 2012, a pesquisa vem ampliando, gradualmente, os indicadores investigados e divulgados. Contudo, vale salientar que ela não informa os motivos que levaram o Acre a ser o quinto estado com a maior taxa de desemprego.
“A pesquisa nos informa os indicadores e não as causas dos mesmos. Através de uma amostra visa produzir indicadores para acompanhar estas flutuações trimestrais e a evolução, a médio e longo prazos, da força de trabalho e outras informações necessárias para o estudo e desenvolvimento socioeconômico do País. Portanto somente divulgamos como está o cenário atual e através de uma série histórica podemos acompanhar as flutuações nos números divulgados, ficando a cargo de outros setores da sociedade analisar as causas dos referidos índices divulgados”, explica o Gilvan Ferreira da Júnior, Coordenador Estadual da Pnad Contínua no Acre.
Frente aos dados apresentados, é possível identificar diversos perfis de pessoas desempregadas, tanto antes da pandemia quanto depois, ou até mesmo pessoas que garantem um diploma e mesmo assim sentem dificuldades para arranjar um emprego
Este é o caso de Jamile Souza, 26 anos, formada em Arquitetura desde 2021, até o momento desempregada. Ela garante que o mercado de trabalho está cada vez mais difícil, pois exigem muito dos recém formados e não dão oportunidades para os que não tem experiência na área. “Os escritórios de arquitetura exigem muito dos formandos, coisas que não vimos na faculdade e que não temos experiências”. ”
O economista Carlos Franco, explica que a situação do desemprego não é apenas no estado do Acre, mas sim algo que atinge todo o Brasil antes mesmo da pandemia. “A questão é que a pandemia agravou o problema que já vinha acontecendo há muito tempo. O estado do Acre especificamente é mais afetado porque é uma economia muito frágil, que depende essencialmente do emprego público e do gasto público. Nós não temos grandes setores privados que dinamizam a economia. Então a gente fica dependente principalmente de transferências do governo federal, de investimentos de gasto público do Governo Federal para ter uma melhoria no quadro do emprego no Acre. Então, o problema é nacional, mas essa fragilidade da economia do Acre é que faz com que ele tenha um desempenho pior do que a maioria dos outros estados”, explica o especialista.
Apesar dele ter afirmado que a pandemia complicou mais a situação de desemprego, o economista reitera que esse problema já existia há muito tempo. “Antes de 2019 nós já tínhamos um quadro de um nível muito alto. Nós tínhamos em torno de 11% da população economicamente ativa desempregada antes da pandemia. Esse índice subiu para um pouco a mais de 13%. Então a pandemia contribuiu com mais ou menos 2% no aumento do índice de desemprego do país inteiro”, ressalta Franco.
Desemprego pós-pandemia
O Estado do Acre já está voltando normalidade, com os costumes de antes da pandemia, com o uso das máscaras deixando de ser obrigatórios em locais abertos e fechados, com exceção dos hospitais e meios de transportes com passageiros, onde o uso permanece obrigatório. Mas o desemprego não mostrou a evolução esperada, apesar da pequena melhora projetada pelo economista Carlos Franco
“Eu acredito que o pós-pandemia deve melhorar um pouco, mas a questão é que nós temos problemas estruturais e conjunturais na economia brasileira que precisam ser resolvidos para aumentar e assim melhorar essa situação. Então nós temos o índice de inflação muito alto, e um desequilíbrio nas contas públicas tanto do Governo Federal quanto do governo estadual”, explica o economista.
De acordo com as informações de Franco, mudar esse cenário no Acre é um caminho muito longo e complexo, pois existe uma economia privada muito frágil. Dessa forma, o local depende do que o governo e a prefeitura injetam na economia interna do estado, e que tenham dinheiro para injetar, fazendo com que o quadro de desemprego possa melhorar. Além disso, ele também cita outras ações que são necessárias para que essa situação possa ser amenizada.
”Nós precisamos de políticas públicas que façam com que o setor privado aumente a capacidade de ofertar emprego, pois não temos nenhuma atividade econômica que dinamize a nossa economia. Então a tendência é que esse perfil econômico do estado do Acre ainda perdure por um bom tempo, pois é necessário ter políticas de estado, de médio e longo prazo. Em quatro anos nenhum governo conseguiu mudar esse quadro no estado do Acre, que é a dependência do setor público. A cada R$100,00 que circula no Acre, aproximadamente, R$70,00 é dinheiro provindo de transferências do governo”, concluiu Carlos Franco.
A pandemia agravou a situação, quando pessoas com trabalho fixo foram demitidas, como é o caso da Janaina Barroso Cardozo, 25 anos, prestadora de serviços. Ela perdeu o emprego durante a pandemia, com a justificativa de corte de gastos, e desde então não conseguiu outro. “A dificuldade para encontrar um trabalho é devido às exigências das empresas que querem que façamos inúmeras coisas rapidamente e em menos tempo”, diz ela.
Janaina afirma tentar se qualificar em áreas distintas, tentando assim uma melhor oportunidade de emprego, mas como precisa ajudar nas despesas de casa, os estudos e qualificações se tornam difíceis. Ela precisa realizar “bicos” para conseguir auxiliar sua mãe.
Janaina se encontra numa situação difícil, pois precisa ajudar nas despesas de casa, e não tem experiências nas áreas dos cursos que conseguiu terminar. “Também querem que eu tenha experiência quando procuro em outras áreas relacionadas ao que estudei”.
O coordenador da pesquisa informa que, por ser algo contínuo, ainda tem mais duas pesquisas a serem divulgadas neste ano de 2022 sobre os dados de desemprego no Acre. “A pesquisa é contínua, portanto sua coleta abrange todos os meses do ano, com divulgação a nível nacional todos os meses e a nível regional, estadual e municipal a cada três meses. A PNAD segue um calendário pré-definido que especifica os períodos de coleta e divulgação, tendo, neste ano, mais duas divulgações trimestrais previstas, uma em agosto e a seguinte em novembro”.
O município de Rio Branco registra um número de quase 17 mil animais abandonados, segundo o Centro de Zoonoses da Prefeitura de Rio Branco. Esse dado também reflete uma realidade nacional, na qual 25% dos cães e 26% dos gatos estão em situação de abandono, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Um exemplo é o caso de Mimoso, mascote adotado pela clínica veterinária Cães & Cia. Um dos médicos veterinários da clínica, Denis Costa, conta que o gato foi levado há mais de um ano pelo cuidador que o abandonou. O animal estava com uma miíase (infestação da pele por larvas de moscas que se alimentam do tecido do hospedeiro) na cabeça.
Costa também relata que foi um caso difícil de tratar e que ninguém acreditava na recuperação. Agora, após 18 meses, Mimoso está totalmente recuperado.
“O mascote que nós temos aqui, ninguém acreditava que estaria vivo. Era um caso em que ninguém confiava, e agora ele está esbanjando saúde”, disse o veterinário.
Na imagem, o veterinário Denis e o mascote Mimoso. Foto: Lucas Sousa
Esse não é o único registro de casos assim. Trata-se de uma questão alarmante, que cresce cada vez mais e configura um crime previsto na legislação brasileira. Segundo o artigo 32 da Lei Federal nº 9.605/1998, o abandono e os maus-tratos contra animais são crimes, com pena de três meses a um ano de detenção, além de multa. Em 2020, houve uma modificação, aumentando a pena para dois a cinco anos de reclusão, conforme a Lei Federal nº 14.064/2020.
ONGs
Um dos maiores desafios enfrentados pelos ativistas de Organizações Não Governamentais (ONGs) é o alto custo dos tratamentos para os animais resgatados. Vanessa Facundes, presidente da ONG Patinha Carente, explica que a organização não consegue realizar o resgate de todos os animais devido as dívidas acumuladas com as clínicas veterinárias.
“Gostaríamos de poder resgatar todos, mas temos dívidas muito altas nas clínicas veterinárias particulares”, argumentou a presidente da ONG.
Projeto de Lei
No Acre, dos 24 deputados estaduais, Emerson Jarude (NOVO) defende a causa animal e já possui um projeto de ação em parceria com a Universidade Federal do Acre (Ufac): o Projeto Cuidar, que tem como objetivo atender aos animais de rua. Instituições e ONGs que realizam trabalhos com esse foco também serão beneficiadas pelo projeto.
Jarude também anunciou o lançamento de um novo projeto: o Pet Farm (Farmácia de Pet), que será uma extensão do Projeto Cuidar.
“O Pet Farm é uma forma de conseguirmos disponibilizar medicamentos para os animais e auxiliarmos após o tratamento feito dentro desse projeto”, afirmou.
Poder público
A equipe de reportagem tentou contato com o Centro de Zoonoses da Prefeitura de Rio Branco para comentar a situação, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria. O espaço segue aberto para qualquer posicionamento ou esclarecimento por parte do poder público.
A crescente população de animais abandonados em Rio Branco evidencia a urgência de políticas públicas efetivas, parcerias institucionais e o engajamento da sociedade civil. Proteger os animais é também um dever social e legal, que exige mais do que boa vontade, é preciso ação.
Por Ana Luiza Pedroza, Ádrya Miranda, Daniel de Paula e Wellington Vidal
O jornal impresso, símbolo histórico e cultural no Acre, começa a se despedir lentamente do cotidiano da população. A era digital assume o protagonismo, apostando em novos formatos de levar acesso à informação, no entanto, sem apagar o legado construído pelo impresso na história acreana.
Apesar dos esforços para reinventar o jornalismo local, a transição do impresso para o digital trouxe grandes desafios. No Acre, essa movimentação ocorreu de forma tardia, mas com a contribuição de jornalistas que se desdobram diariamente para acompanhar as mudanças no modo de noticiar, mantendo o compromisso social com a população.
Entre os obstáculos, a pandemia de Covid-19 foi um dos que aceleraram o declínio dos jornais impressos em todo o país, e no Acre não foi diferente. O A Gazeta, um dos veículos mais populares do estado, foi diretamente impactado.
Rotativa, máquina utilizada na impressão dos jornais A Gazeta. Foto: Ádrya Miranda
Fundado em 1985, sob direção de Silvio Martinello e Elson Martins, o jornal se destacou pelo jornalismo investigativo e de cunho social, sendo pioneiro em projetos editoriais gráficos com diagramação no impresso acreano. Foi por meio de suas páginas que os acreanos acompanharam coberturas históricas, como o assassinato do sindicalista Chico Mendes.
Em 1998, tornou-se o primeiro jornal a circular em cores no estado, com até 3.500 exemplares vendidos em dias movimentados, segundo Silvio. Apesar das inovações com o jornal impresso, o veículo enfrentou as adaptações tecnológicas do século 21. O portal online, criado ainda nessa fase, tinha estrutura simples, servindo apenas para replicar, de forma reduzida, as notícias do jornal físico.
À esquerda, Maíra Martinello; ao fundo, Paula Martinello; e à direita, Silvio Martinello. Foto: Arquivo pessoal
A edição impressa teve o seu fim em 2021, após uma expressiva queda nas vendas. Paula Martinello, jornalista do A Gazeta do Acre, relata que a migração definitiva para o digital foi desafiadora e impulsionada pela pandemia. “Foi um processo muito gradativo, porque o trabalho online não é fácil. É muita concorrência, é um outro tipo de público e perfil de consumo da notícia”, comenta.
Para os jornalistas do A Gazeta, hoje, A Gazeta do Acre, o desafio não foi apenas adaptar-se ao ambiente online, mas reinventar a rotina de produção jornalística sem abrir mão da credibilidade construída. Segundo Maíra Martinello, foram necessárias estratégias para garantir a sobrevivência e a relevância no meio digital, que exige mais agilidade, versatilidade e presença em todas as plataformas.
“A gente foi entrando nesse mundo online, digital. Claro que tem pontos positivos, como o custo mais baixo, a praticidade e a democratização do acesso à informação. Mas a era digital exige muito mais do jornalista, que hoje precisa escrever, gravar vídeo, áudio, editar, usar várias ferramentas ao mesmo tempo”, explica.
A transição da notícia do impresso para o ambiente digital, embora tenha sido impactante para todo o campo jornalístico, foi recebida de maneira diferente por cada veículo, conforme suas particularidades. Outro nome importante da imprensa acreana, como o jornal O Rio Branco, também enfrentou esses momentos de transformação.
Portal de notícias oriobranco.net. Foto: Ádrya Miranda
Mendes também reforça a necessidade dos jornalistas manterem seu compromisso social, mesmo diante das mudanças impostas pela era digital. “Se vocês forem jornalistas e pretenderem ser responsáveis, não esperem que a notícia chegue até vocês. Vocês têm que ir atrás da notícia”, conclui.
Essa transformação também é percebida por leitores que acompanharam de perto o auge das edições impressas no Acre. “Porque o jornal é um documento, então ele vai ficar ali para sempre”, comenta o jornalista e leitor assíduo Gleilson Miranda, de 55 anos, ao destacar que o jornal impresso carrega um valor que vai além da notícia do dia, mas também a documentação de histórias.
Segundo ele, com o jornal impresso era possível encontrar experiências afetivas, que marcavam seu momento de leitura.
“O jornal é impresso, tem esse charme, tem essa coisa de você sentar, tomar um café e folhear as páginas, lendo as principais notícias. Isso era muito bom para a época. Hoje você tem essa notícia mais rápida. Notícia que chega muito rápido”, afirmou Gleilson, ao relembrar as sensações que os impressos lhe proporcionaram.
A transição dos jornais impressos para os portais digitais no Acre marca uma mudança profunda no modo de fazer e consumir jornalismo. Conhecer a história da imprensa local, com a contribuição das edições do A Gazeta e O Rio Branco, é essencial para entender o papel que esses veículos tiveram na formação da identidade e da memória do estado.
Edição impressa O Rio Branco. Foto: Arquivo Espaço Cultural Palhukas
Para Narciso Mendes, atual proprietário da TV Rio Branco, o impresso no Acre carrega o legado de muitas figuras marcantes da história local. No entanto, a migração do jornal impresso O Rio Branco para o meio online não teve o mesmo peso como teve para os demais veículos.
Um estudo realizado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) mostrou que em 2021 49% das mulheres jornalistas sofreram ataques de gênero sendo desqualificadas com ofensas e xingamentos. No meio digital, o número sobe para 56,76%. Em uma área historicamente dominada por vozes masculinas, apesar das dificuldades as mulheres estão se destacando cada vez em maior número e trazendo à luz temáticas importantes para a sociedade.
Juliana Lofêgo, professora do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Acre, diz que a presença das mulheres está influenciando na cobertura de questões sociais, culturais e políticas. Para Lofêgo, elas têm desempenhado um papel significativo em destacar questões de violência contra mulheres e assédio, garantindo que essas problemáticas não sejam esquecidas ou minimizadas pela mídia. “Com o avanço do movimento feminista e as mudanças sociais, as mulheres jornalistas têm sido influenciadas a trazer à tona essas questões, mesmo que isso não tenha sido comum no início de suas carreiras”, complementa.
Consuela Araújo é jornalista formada pela Ufac e atua na área de assessoria de imprensa, ela relata que como jornalista mulher enfrentou estereótipos de gênero e discriminação ao longo da carreira, principalmente fora do jornalismo. Já no telejornalismo, outro campo onde atuou, diz ter sido bem acolhida por colegas e pela comunidade, entretanto considera que a busca pela igualdade de oportunidades continua sendo uma luta constante. Araújo aconselha as futuras profissionais a buscarem aprimoramento, construir uma rede de contatos sólida e manter a paixão pela verdade e pela narrativa honesta. “Acreditar na importância do jornalismo local é essencial para contribuir significativamente para a sociedade acreana”, afirma.
Servidora concursada do Estado, a jornalista Andreia Nobre relata que um grande desafio que enfrentou na carreira profissional foi quando se tornou mãe, pois teve que conciliar a maternidade e o trabalho. Ela acredita que esse seja um desafio para as mulheres em qualquer carreira e também para as que trabalham no setor privado.
Apesar das contribuições significativas das mulheres para abordar agendas importantes a serem discutidas na sociedade, a desconfiança em relação a sua capacidade profissional ainda é uma realidade. Ana Paula Melo, estudante do terceiro período do curso de Jornalismo, trabalha como estagiária no jornal Cidade Alerta, ela diz que percebeu que há um preconceito dentro da universidade pelo fato de ser uma mulher estudante de Jornalismo.
“Já vi algumas pessoas torcerem a cara num tom de desconfiança quando falo que faço Jornalismo. Alguns já dizem que somos compradas, e, às vezes, por ser mulher, dizem que ao invés de buscar informações, buscamos fofoca. Em rodinha de amigos, embora ainda seja estagiária, já fui questionada se algum político me paga para fazer matéria sobre ele. Será se eu não tenho capacidade para escrever sobre política? São reflexões que sempre me questiono, afinal, ser mulher é ter a sua capacidade sempre questionada”. Ela acredita que o maior desafio é alcançar credibilidade equivalente a dos homens e enfatiza a importância de inserir mais mulheres em posições de liderança nos veículos de comunicação.
Texto produzido pelos acadêmicosAna Caroline Santiago, Adriely Gurgel, Maria Eduarda Melo, Rian Pablo de Oliveira e Júlia Andrade. A produção faz parte da disciplina Fundamentos do Jornalismo.