Quem não aprecia um cafezinho bem quentinho, seja com leite, sem leite, puro ou adoçado? Com o aumento do consumo, e consequentemente da produção, o café despertou o interesse de quem busca alternativas viáveis na agricultura da região amazônica. O Acre é o segundo maior produtor de café da Região Norte, ficando atrás apenas de Rondônia.
No Estado, em 2021 foi produzido pouco mais de duas toneladas do café Canéfora, em 2024, esse número subiu para mais de três toneladas, e até julho de 2025 houve aumento significativo, chegando a quase cinco toneladas, como mostra a tabela a seguir. E até o fim do ano, o IBGE estima um crescimento de 60% em relação à safra anterior.
O nome, café Canéfora vem do termo Coffea canephora, que inclui os grãos “Conilon” e “Robusta”. Suas principais características incluem altaresistência, produtividade e adaptação ao clima quente e úmido da Amazônia.
Segundo o pesquisador Celso Luís Bergo, da Embrapa Acre, “O cafeeiro canéfora veio da África e lá já estava adaptado a condições como baixa altitude e alta temperatura. Aqui na Amazônia, também é baixa altitude e alta temperatura, então ele se adaptou bem e é altamente produtivo”
Tubulação principal para distribuição da água em sistema de irrigação por gotejamento do café Canéfora/Cedida
A Universidade Federal do Acre (Ufac) é parceira da Embrapa em um estudo que investiga o uso da irrigação no cultivo do café Canéfora. A proposta do estudo é racionalizar o uso da água, ou seja, gastar menos e, ao mesmo tempo, aumentar a produtividade da lavoura.
O foco do estudo está no uso mais eficiente da água, com o objetivo de aumentar a produtividade e melhorar a qualidade do café, reduzindo perdas e tornando o sistema mais sustentável. Essa prática beneficia tanto os produtores, que têm maior rendimento, quanto os consumidores, pois o uso correto da irrigação reflete em aumento de produtividade, qualidade de bebida e lucratividade, conforme documento disponibilizado pela Embrapa.
A pesquisa “Manejo de irrigação por gotejamento para cultivo de clones de café Canéfora nos estados do Acre e Rondônia” conta com especialistas como os pesquisadores Celso Luís Bergo, Leonardo Paula de Souza e Aureny Maria Pereira Lunz, além de estudantes de graduação e pós-graduação em Agronomia, integrando ensino, pesquisa e extensão.
O professor Leonardo Souza comenta que a ideia do estudo surgiu ao “identificar que o manejo da água nos sistemas de irrigação estava sendo realizados com base na intuição do produtor e total ausência de parâmetros técnicos”, que poderiam apoiar o uso mais eficaz da água em determinadas fases da cultura do café.
Os pesquisadores utilizaram métodos como medição da tensão da água no solo (quando irrigar o café) e supressões de irrigação (por quanto tempo a irrigação é interrompida). Estes testes foram feitos em área experimental da Embrapa Acre e mostraram resultados consistentes.
Cafezal saudável
Os resultados se destinam a melhorar a maturação e a qualidade do café, favorecendo o crescimento da vegetação e a produtividade do grão. “Plantas irrigadas apresentaram um melhor desenvolvimento vegetativo quando comparadas às plantas não irrigadas”, afirma o professor Leonardo Souza.
O engenheiro agrônomo Romário Monteiro, que trabalha há mais de três anos com esse tipo de café, comenta que o manejo adequado da irrigação por gotejamento ajuda as plantas a crescerem de forma parecida, ao mesmo tempo, com saúde e equilíbrio.
“Pode garantir uniformidade no desenvolvimento da lavoura, favorece a florada e o enchimento dos grãos, e aumenta significativamente a produtividade, especialmente nas regiões com chuvas irregulares”, afirma.
Visão de quem planta
O produtor Matheus Guimarães da Rocha, de Capixaba, cultiva Canéfora há cerca de dois anos e afirma que os resultados são promissores. Esta é sua primeira colheita, que após a secagem e beneficiamento dos grãos será vendida.
Ele acredita que o café tem potencial para crescer ainda mais na região e espera que, com isso, os produtores possam ter uma lucratividade maior. “O produto está em crescimento e ele [o café] vai melhorar o preço”, enfatiza.
Benefícios e resultados
Os resultados da pesquisa foram importantes, segundo Leonardo Souza, para permitir tomar decisões de quando e quanto irrigar. Ele também destaca a importância para a economia local. “Está comprovado que a irrigação no café Canéfora proporciona aumento de produtividade e nesse sentido, surge a oportunidade de empresas especializadas em irrigação se instalarem na região, gerando emprego e venda de equipamentos”.
Fase de florada do café Canéfora/ Cedida
Todo esse trabalho contribui diretamente para a formação de novos conhecimentos e profissionais, uma vez que a parceria entre Embrapa e Ufac envolve estudantes em formação. Celso Bergo destaca uma das maiores contribuições do projeto: “formar pessoas preparadas para aplicar o conhecimento em benefício da sociedade”.
Além disso, o projeto pode ajudar a atrair novos investimentos o Acre contribuindo com economia local, e Leonardo Souza confirma isto, “Está comprovado que a irrigação no café Canéfora proporciona aumento de produtividade e nesse sentido, surge a oportunidade de empresas especializadas em irrigação se instalarem na região, gerando emprego e venda de equipamentos de irrigação”.
Os pesquisadores darão continuidade no estudo com um novo projeto aprovado e elaborado em parceria da Ufac junto ao Programa Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento do Café – PNP&D/Café, coordenado pela Embrapa/Consórcio Pesquisa Café.