Histórias de vida

A vendedora de mangás

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Foto: Arquivo pessoal/proprietária da loja Up Nerd Store

Por Carina de Melo Gomes

“Meu falecido avô lia muito e eu vivia com ele. Então, peguei essa coisa dele”.

A jovem carioca Beatriz Xavier, bibliófila e no auge de seus 26 anos de idade, sempre sonhou em ter o seu próprio negócio na “área de livros”. Desde muito nova já dizia que seria sua própria chefe um dia. Leitora assídua desde a infância, ela sempre encontrou refúgio nos livros. “Meu falecido avô lia muito e eu vivia com ele. Então, peguei essa coisa dele”. 

Seu José era um homem bondoso, de cabelo lisinho e bem arrumado, trazia sempre um largo sorriso no rosto. Muito generoso e com o coração disposto a ajudar todo pé de cristão que a ele chegasse, cativou muita gente enquanto viveu. Como forma de reconhecimento batizaram uma rua com seu nome, “José de Oliveira Xavier”, um jeito bonito de homenagear o bom cidadão que foi.  A neta muito se orgulha do exemplo que teve em sua família, e hoje fala com admiração sobre a herança intelectual que ganhou do saudoso avô. 

Dois mil e vinte, isolamento, medo e incerteza. Pessoas dos quatro cantos do planeta confinadas entre as quatro paredes de seus lares, lamentam o caos sanitário, social e econômico gerado pela pandemia viral. Bia, como gosta de ser chamada, é mais uma dentre as milhares de pessoas que se encontram diante do dilema chamado desemprego e se viram obrigadas a correr atrás de algo que pudesse gerar o sustento da família ou, até mesmo, antecipar sonhos. E foi assim que, movida pela necessidade, a jovem da cidade de Campo Grande se encheu de coragem, tirou o sonho do bolso e decidiu colocar a mão na massa. 

A ideia de montar um negócio surgiu anos atrás, mas foi somente no início da pandemia que lançaram o projeto. “Meu sonho sempre foi empreender e obter minha independência financeira”. É agora ou nunca – disse para si mesma, deixando pela primeira vez a esperança falar mais alto que o medo. O marido foi o primeiro a dar o apoio necessário. Apaixonados por livros, pela cultura oriental e o universo geek, ela e o esposo Ricardo, decidiram apostar no nicho de produtos nerds. Mangás, animes, marcadores magnéticos e canecas foram os itens escolhidos para serem vendidos em sua loja virtual. 

Mas, como nem tudo na vida são flores, junto com as conquistas surgiram também os desafios. As críticas de pessoas das quais esperava apoio foram como um balde de água fria para Beatriz, causando bastante desânimo. “Não é fácil administrar tudo sozinha, temos que nadar contra a correnteza, é você por si mesma”.

“Ser dona de casa, trabalhar e estudar não é fácil, mas é tão gratificante… Para dar certo é necessário ter organização, o tempo é tudo!”

Para Bia, foi uma jornada de autoconhecimento, muito além de criar o próprio negócio. “Acho que a decisão da loja foi uma das minhas melhores escolhas, não só no âmbito financeiro, mas pelo amor ao meu trabalho. Servir com excelência é incrível, nisso tudo eu só tenho muita gratidão.”

Quando uma mulher decide empreender, se ela conecta seu sonho a um propósito maior, traz impacto e significado para a vida dela e de outras pessoas. Meu grande aprendizado mediante tudo isso é que não devemos desistir, que precisamos sonhar e ter garra para conquistar o nosso espaço”. Acreditar  e investir em nossos sonhos torna o caminho mais autêntico para viver experiências intensas de transformação de vida.

Já dizia o cantor Milton Nascimento: “…Mas é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre…” Essa é a sina de inúmeras mulheres, Bias, Marias e tantas outras espalhadas pelo mundo afora, guerreiras.

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